quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

I

Voltaste a importunar-me naquele que é um espaço só meu, dos poucos. Começa a tornar-se um hábito e incomoda-me cada vez mais porque, se apareces, por alguma razão é. E eu não quero que seja, não quero que haja nem quero que existas cá dentro. Já basta existires aqui, no mundo de fora.

Estavas com ela. Estás sempre com ela. Mesmo assim, é para mim que olhas, e eu sinto o teu olhar a penetrar-me em cada poro, em cada gesto meu e causa-me arrepios. Tudo à nossa volta é um emaranhado de tons escuros e de movimento, mas tu destacas-te, estás quieto e sorris com o que se passa à tua volta e é para mim que os teus olhos se dirigem outra e outra vez. Entro no teu jogo e fixo-me em ti e nela. Ela não me incomoda e eu sei porquê. Fintamos olhares, um desafio. Há música e é de noite, como sempre. (Lembras-te?) Levantas-te devagar. Durante todo este tempo de quietude e de olhares estiveste a ponderar sobre isto. Desistes dela, chegas perto e acabas por me tocar. Sinto-te pela primeira vez, como nunca te senti no mundo de fora. O teu toque é quente, como eu esperava.

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