sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E com o tempo a caixa das recordações vai enchendo.
Ouvir o som do rio embala-me e só me faz sentir mais saudades de dias inteiros a ouvir o mar a fazer festinhas na areia.

a tarde de hoje

dentro da barriga [XXI]

Os entendidos dizem que deste fim-de-semana não passa. Eu, por aqui, vou adiantando o máximo de coisas pendentes que tenho para poder estar livre para acompanhar o inicio desta nova vida, da forma mais presente que me é possivel.
Sinto-me triste. Consigo rir-me às gargalhadas, dizer piadas e ter vontade de dançar pelas ruas, mas estou triste. Quando me sento no sofá e fecho os olhos para descansar dum dia de aulas ou de um dia a andar dum lado para o outro, sinto que me falta qualquer coisa. Ou falta-me mais. Ou acho que mereço mais e por isso torno-me exigente e a pôr defeitos aqui e ali. E pergunto-me se realmente não posso sentir-me satisfeita com o que já tenho. Se realmente é suposto ter mais quando há quem tenha bem menos. Pergunto-me se realmente alguma coisa mudou dum dia para o outro ou se é um truque da minha mente para me defender e afastar-me antes de achar que estou a ser afastada. Mas tudo o que quero é precisamente o contrário, o que quero é chegar-me mais e sentir em cada pormenor que também se estão a chegar a mim. Ou que se está a chegar a mim. Ou que afinal nunca de afastou. Sou exigente com os outros. Fico frustrada mais frequentemente do que se calhar é normal. Fico magoada com pequenas coisas que acho que não deviam acontecer, mas que para a maior parte das pessoas é fácil de ultrapassar sem sequer perderem dois minutos a pensar nisso. Não suporto que falhem comigo, mas sei que às vezes falho com os outros. Custa sempre mais quando se está na pele, claro. Mas, às vezes, sei que merecia que me dessem aquilo que dou aos outros, aquilo que digo, aquilo que faço, aquilo que penso. Sei que mereço.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

cinco


E eu quero continuar a ver-me ao espelho nos teus olhos de cor indefinida.
Hoje, enquanto fazia tempo para começar a aula, ia vendo rapazes e raparigas a subir e a descer os intermináveis lanços de escadas da faculdade e dava para perceber, pelas conversas, que estavam ainda no primeiro ou segundo ano. Pela primeira vez cheguei a sentir uma certa inveja deles. Geralmente, quando olho para eles, o que sinto é qualquer coisa como um certo sabor a superioridade e penso para mim que mal sabem eles o que ainda os espera. Olho para eles e conto os anos: 1, 2, 3, 4. Já estou a meio do quarto e eles ainda no princípio. E por isso, hoje, tive inveja deles. Queixo-me da quantidade de trabalhos por semestre, queixo-me porque me deixa nervosa apresentar trabalhos oralmente e tenho de o fazer constantemente, queixo-me porque me custa acordar cedo para apanhar dois autocarros para ir para as aulas, queixo-me porque as férias de três meses me parecem sempre curtas, queixo-me da quantidade de frequências, queixo-me dos professores, queixo-me das mensalidades e do número de livros que temos de comprar, queixo-me disto e daquilo. Mas hoje, só hoje, tive inveja daqueles rapazes e raparigas que desciam e subiam aquelas escadas que eu tantas vezes já subi e desci, umas vezes mais ansiosa antes dum trabalho, outras vezes com um sorriso na cara por um teste me ter corrido bem, outras vezes a conversar e a brincar com as minhas colegas que sei que vão ficar comigo toda a vida, além da faculdade. Aqueles rapazes e raparigas vão cruzar-se, tal como eu me cruzei, com professores que marcam alguém simplesmente por uma frase dita na altura certa, por uma frase que se adequa perfeitamente ao que estamos a sentir na altura e que define por palavras claras exactamente aquilo que muitas vezes sentimos sem saber como exprimir. Aqueles rapazes e raparigas vão sair, tal como eu saí, de muitas aulas com um ponto de interrogação na testa ou com um brilho nos olhos por ter aprendido nesses minutos anteriores algo que os vai acompanhar para sempre. Aquelas raparigas e aqueles rapazes, provavelmente, não sabem ainda a sorte que têm por estar ali a aprender com pessoas tão úteis e sábias. Hoje olho para trás e tenho saudades do começo, tenho pena por não ter aproveitado mais alguns recursos que estavam disponíveis e que, por preguiça ou por falta de tempo não aproveitei. Hoje tracei uma linha imaginária na minha mente e percebi que estou na pontinha do lado direito e que este é o último semestre de aulas da minha vida. É uma etapa que acaba. Vou, finalmente, exercer a profissão que escolhi. E sei que não estou preparada, que não me sinto segura, que tenho dúvidas constantes e que não vai ser fácil. Vou deixar este conforto que dá jeito, esta margem de manobra que me deixa faltar quando quero e que me permite acordar tarde e fazer os meus próprios horários e entrar num mundo que me vai obrigar a ser adulta, a ser ainda mais responsável, a enfrentar-me a mim mesma e a perceber se afinal sou ou não capaz. Hoje, desejei estar a entrar para a faculdade, pela primeira vez.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

dentro da barriga [XX]

39 semanas passaram rápido. Estes últimos dias de espera é que estão a dar comigo em doida, tal é a curiosidade e a vontade louca de ter um bebé cor-de-rosa, minúsculo e amedrontado com o novo mundo, nos meus braços de miúda.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Hoje cheirou-me a um fim de tarde de Verão.
Não custa levantar cedo da cama quando é para fazer algo que me apetece muito. Não custa apanhar o autocarro ou andar a pé quinze minutos, de manhã cedo, quando é para ir ter com a pessoa de quem gosto. Não custa fazer o almoço quando se cozinha para dois e em conjunto. Não custa subir e descer ruas e andar às voltas durante horas quando estou de mão dada com uma pessoa especial. Não custa aguentar a vontade de comer quando não quero perder tempo em filas nas pastelarias para poder aproveitar o sol cá fora entre conversas e brincadeiras. Não custa, e eu era capaz de viver assim.

parte do dia de hoje


foi passada no terraço do hotel do chiado, a beber sumo de laranja natural e a contemplar a paisagem [que nunca me cansa] da cidade.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

hoje

na casa da minha irmã apanhou-se sol na varanda, fez-se scones e bebeu-se chá.
Enquanto estávamos na varanda eu sussurrei ao bebé: "podes nascer, não tenhas medo, cá fora há sol e quando estiver escuro nunca vais estar sozinho." Mas não foi o suficiente para o convencer a nascer hoje.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

I want to be forever young

gula

Jantei. Pouco depois comi duas mini pizzas. Logo a seguir abri uma lata de leite condensado e comi cinco colheradas. Uma fatia de salame de chocolate veio a seguir. Amanhã vou retomar a minha ginástica porque isto assim não dá.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

hoje,

num sótão com mais de cem anos e poeirento.
Dormir. Acordar, olhar para o relógio e saber que ainda há tempo para virar para o outro lado e adormecer de novo. Encolhida. Quentinha. Enrolada no roupão azul.
- Onde estás?!
- Queres que vá ter contigo um bocadinho?
- Quero!

Ele lê-me nas entrelinhas.


Apetece-me outra tarde de raios de sol a atravessarem-me a roupa e a aquecerem-me a pele. De brincadeiras. De fotografias a torto e a direito. De trocas de dentadas no muffin de framboesa e noz por um molhar de lábios no café com natas e caramelo. De ir sentada no sitio das malas do autocarro. Na melhor companhia.

tpm atrai azar

E como se não bastasse ter de refazer uma frequência injustamente e a minha tatuagem ter ficado num tom bem diferente do inicial por causa do retoque, a minha máquina fotográfica ainda me fez o favor de avariar.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Vejo tudo em tons de cinzento. Um degradé aqui e ali que muitas vezes chega e permanece no extremo onde está o negro mas que nunca chega ao extremo do branco.

dentro da barriga [XIX]

Berço montado, caminha montada no quarto do mano mais velho, roupinhas lavadas e arrumadas na cómoda branquinha nova, mala para levar para o hospital preparada, o meu coração cheio de amor, curiosidade imensa, vontade de cheiro a bebé e de embalá-lo no meu colo ainda maior. Está quase.

ontem

os dois, ao mesmo tempo.
Só me queria enfiar na minha cama, debaixo dos cobertores, com tudo escuro, e ficar assim uma semana inteira. Só sair quando soubesse que o mundo tinha só as cores do arco-iris, que se podia dançar ao som da música das ondas, que os dias podiam ser passados numa mata algures com uma pessoa especial que nos acalma sem ter pressas nem receios e que cresciam chupa-chupas de framboesa nas árvores das ruas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Só uma tarde de seis horas com direito a luta de cócegas e de cuspo, de risadas e de muitos mimos é que me fez distrair da frustração e raiva imensas que sinto hoje. Mal dei o beijinho de despedida e entrei em casa pareceu-me que toda a aura de sentimento de leveza e de alegria construida ao longo da tarde tinha desaparecido para dar lugar, novamente, à ira e ao sentimento de injustiça.
Motivo: um professor foi assaltado e roubaram-lhe as frequências da minha turma.
Resultado: repetir a frequência sem qualquer direito a refilar.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

pormenores

Covinha do lado direito do queixo.
Escrever aquela palavra na pele dele, com a ponta do dedo.

saint valentine's day

Recusar entrar no esquema do consumismo típico deste dia. Receber uma carta escrita à mão que leio três vezes seguidas com o coração aos saltos como se fosse de novo uma adolescente. Dar uma montagem de fotografias com momentos dos últimos cinco meses. Estar na festa de anos do meu sobrinho com o L. ao meu lado. Comer espetadas de gomas e fazer planos longínquos com o L.. Ao final do dia um jantar a dois. Muitos mimos e muita conversa. Não notar diferença nenhuma entre o dia de hoje e os outros dias, o que me leva a reafirmar que, para mim, o dia dos namorados têm sido todos os dias ao longo destes últimos meses.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

conversas de messenger [II] (ou eu a ser ridicula)

R - Já te disse que fui à agência de modelos e que a mulher te achou gira?
Eu - NÃO ME DISSESTE
R - Levei umas fotos e ela viu uma que estavas comigo.
Eu - qual delas??? QUAL???
R - A que tiramos no CCB. Ela parou e disse "oh! é bonita!" e perguntou se eras espanhola, latina e eu disse que eras portuguesa.

(12min depois)

Eu - Mas o "oh" foi aquele tipico "oh" inglês?
R - foi...
Eu - Já me devias ter dito! Mas o que disse ela exactamente???
R - Já te disse... e perguntou se moravas cá, eu disse que estavas em Portugal.
Eu - Leva-lhe fotografias minhas e se ela fizer uma boa proposta faço as malas, mudo-me para Londres e marimbo para o curso!!!
Este sol bom de hoje deixou-me andar pela rua sem casacos compridos e deu direito a passear num jardim com um muffin de framboesa e iogurte numa mão e máquina fotográfica na outra. Fotografar e ser fotografada.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Tem dias em que acho que tenho tudo, outros em que acho que não tenho nada.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


"I'm a lonely little petunia in an onion patch..."

domingo, 8 de fevereiro de 2009

objecto transicional

Sem saber porquê apercebi-me que adoptei um. Aos 23 anos.

coisas

Preciso urgentemente de parar de comer, que nem uma alarve, tudo o que me aparece à frente, seja doce ou salgado.
Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small and needy
Warm me up
And breathe me

Sia - Breathe me
Tenho uma vontade enorme de percorrer aquelas estradas desérticas e longas do Arizona a conduzir um cadillac descapotável, com música em altos berros e com uma mala no banco de trás. Óculos de sol postos, um lenço no cabelo por causa do vento e a sensação de ser dona do mundo, de independência e de liberdade. Como nos filmes.
Ele disse-mo e cinco dias depois disse-lho eu.
Assusta.
E daí?!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O som do passado já não é tão forte como antes, agora parecem mais uns pequenos murmúrios que, de vez em quando, se juntam para se transformarem num grito estridente que faz o eco ressoar desde a mente até cada extremidade do meu corpo. É como se fosse um corte de papel que só dói no momento, num curtíssimo compasso de tempo. Depois passa, e só volta a acontecer quando volto a remexer nos papéis que ficaram para trás. Mas os papéis antigos têm tendência a amarelecer, a se tornarem quebradiços nos rebordos e isso quer dizer que cada vez menos detêm o poder de me ferir as pontas dos dedos. Tal como o passado.

É novidade ter alguém ao meu lado que sonha mais do que eu e que acredita mais do que eu. Tenho ao meu lado alguém que está atento até aos meus batimentos cardíacos e que jura que me acalma. E eu confirmo. Alguém que capta pormenores nos meus comportamentos e atitudes, sem que eu dê conta, e que depois me surpreende com o que diz. Não sei o que vem depois, mas o agora podia ser assim para sempre.

La Science des Rêves

"Tonight, I'll show you how dreams are prepared. People think it's a very simple and easy process but it's a bit more complicated than that. As you can see, a very delicate combination of complex ingredients is the key. First, we put in some random thoughts. And then, we add a little bit of reminiscences of the day... mixed with some memories from the past, love, friendships, relationships... and all those "ships", together with songs you heard during the day, things you saw, and also, uh... personal... Okay, I think it's one. "

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

hoje disseram-me

que sou uma menina com cabelo cor de framboesa.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


Lembra-me sempre das tardes do final do Verão, já resfriadas. Quando vinha no caminho para casa a pé, com um sorriso gigante, a andar pelas ruas como se fosse a dona do mundo e com a cabeça cheia de pensamentos contraditórios porque, finalmente, estava a conseguir voltar a apaixonar-me.
Os olhos pestanudos a abrir lentamente depois de uma noite de sono passada pertinho de mim, enche-me de ternura.
Enquanto as três notas que faltam não saem, aproveito para dormir até à hora de almoço sem sentimentos de culpa, passo as tardes de mau tempo a ver "sete palmos de terra" como se não houvesse amanhã e faço planos para a semana que aí vem.
Camisola (para ti) na minha casa, pantufas (para mim) na tua.
A presença, de quem vejo poucas vezes num ano, faz-me sentir sempre como se estivessemos juntos todos os dias. As mesmas manias, os mesmos gestos, os mesmos gostos, as recordações de sempre, seja numa mesa de restaurante, numa paragem de autocarro num final de noite de indecisões ou numa sala de aula.