segunda-feira, 10 de março de 2008

Aos poucos, a pele cobre-se duma fina segunda epiderme, mas de água. Está quente, entranha-se na pele e quase chega até aos ossos. Começo por me agachar e termino sentada na estreita banheira. É o peso do que se passa que me empurra para baixo. Esfrego cada parte do corpo com a esponja grosseira de cor púrpura. Esfrego freneticamente, porque o que quero limpar não é o que está visível, é o que me esfria o espírito. Saio do cubículo com vapor a sair de mim. Os pés aterram no chão gelado de pedra branca mesclada. O contraste de temperatura incomoda por pouco tempo. Volta a eriçar os pêlos de todo o corpo. Viro-me para o espelho embaciado, inspiro para tomar coragem e, com a mão direita, faço surgir o meu corpo reflectido em tímidos traços desenhados pelos dedos. Quero ver mais, mesmo que não me dê prazer. Porque nem sempre gosto do que vejo, apesar de serem sempre os mesmos contornos, os mesmos traços, os mesmos sinais, as mesmas linhas. Mas são esses mesmos traços, contornos, sinais e linhas que me fazem imperfeita.

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