sexta-feira, 28 de março de 2008

a minha casinha na ilha

(Jane e I. - 1998)
Lembro-me da alegria e da azáfama que foi quando se comprou a casinha. A casa da Azenha de Cima. Na altura, foi necessário enviar um contentor de Lisboa para lá, recheado de tudo, desde móveis a lâmpadas, e as semanas anteriores foram passadas a escolher azulejos, cores, loiças e tudo o que se precisa para colocar uma casa em condições. A mãe e a tia faziam tapetes, toalhas e cortinas, enquanto eu ansiava pelas férias que, como sempre, demoravam a chegar.
Já na casinha, gostava de acordar bem cedo, com o sol a entrar pelo quarto e com o canto dos galos dos vizinhos da casa mais abaixo. Levantava-me da cama apressadamente e tomava o pequeno-almoço: o pão-de-casa típico com o queijinho branco, comprados na casa da “Tia Vergínia”. Era um privilégio tomar o pequeno-almoço lá fora, com os olhos postos nos diferentes tons de verde dos pastos que se estendiam até ao mar, lá bem ao fundo, que esperava por mim todos os dias. Os sons que me faziam companhia eram poucos, limitavam-se ao piar dos passarinhos ou ao mugido das vacas, de quando em quando, que estavam nos pastos mais afastados. Nada mais se ouvia.
O gás era de botija e a casa de vez em quando precisava de ser caiada. Havia um forno antigo, de pedra, na cozinha, que nunca foi utilizado. As janelas eram em madeira, antigas também, daquelas que têm de se colocar um pauzinho para a segurar quando está aberta. À volta da casa havia uma laranjeira e outras árvores de fruto, das quais agora não me lembro, relva e canteiros de flores que ajudei a plantar. Lembro-me de trepar ao telhado e de me pendurar na chaminé, onde gravei o meu nome, e conseguir espreitar, lá de cima, para dentro de casa.
Lá, era e ainda é possível sair de casa e deixar a chave na porta, sempre, a qualquer hora.
A casa ainda existe, ainda a sinto como minha quando vejo fotografias e filmagens, mas nunca mais lá fiquei. Há quatro anos que não vou à ilha e as saudades começam a corroer-me por dentro, aos pouquinhos.

1 comentário:

Eduardo César disse...

És uma descritora nata.