Começo a sentir o cansaço da força que me obrigo a ter desde há uns tempos. Enfrentar todos dias o que aí vem com a firmeza de uma rocha que repetidamente leva com a batida das ondas do mar de inverno. Dizer que estou bem mesmo quando isso não é verdade, mas obrigar-me a dizê-lo só para não incomodar, só para não fraquejar quando, no entanto, é comigo que os outros fraquejam e é comigo que os outros falam sem se importarem se incomodam ou não. Começo a sentir o cansaço de não me permitir pensar mais do que consigo tolerar, cansaço de lutar contra a enxurrada de lembranças que depressa surgem, por associação de ideias, a partir das coisas mais banais do meu dia-a-dia e que me trazem as melhores recordações que neste momento são as que mais doem. O peito aperta-se, contorce-se, mas não sai uma lágrima, nem uma para aliviar a angústia da saudade. Nunca mais chorei desde aquele dia. Sinto cansaço de me obrigar a ser estóica e a engolir as palavras que me trepam pela garganta e que se acumulam na pontinha da língua porque não as deixo sair. Só porque não posso ceder. Muito menos contigo, que não me dás essa chance.
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