segunda-feira, 5 de maio de 2008

Ela acorda tarde. Noutra altura qualquer o motivo teria sido por ter ficado até às tantas a ler, ou a ver filmes, mas desta vez não. Aliás, nos últimos tempos não é isso que acontece. Ela acorda tarde porque não consegue adormecer. A partir do momento em que encosta a cabeça na almofada e afasta os cabelos para não lhe fazerem calor, todas as coisas que durante o dia tenta manter afastadas do pensamento resolvem aparecer. É quase como que se abrissem as portas de um armário que está atafulhado de coisas até cima durante muito tempo e tudo caísse para o chão num abrir e fechar de olhos. O silêncio e o escuro do quarto despoletam os pensamentos que, agora, parecem fluir com uma facilidade assustadora. Vira-se para o outro lado, como se isso fosse espantar o que se passa dentro dela, mas sem qualquer efeito. Algum tempo depois começa a conseguir adormecer, mas logo nos primeiros instantes é a cara dele que surge. É tão fácil para ela fechar os olhos, seja onde e quando for, e traçar mental e perfeitamente os contornos do corpo dele sem esquecer um único pormenor. Desde a linha do cabelo, passando pelos contornos perfeitos do pescoço. O toque na pele morena e macia ainda lhe permanece na ponta dos dedos. Finalmente adormece.

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