É costume ouvir-se dizer – “perdoei mas não esqueci”. Nada de mais errado psicologicamente, e portanto produto de uma convicção ilusória. O animal homem esquece, mas raramente perdoa. E simplesmente perdoar as ofensas sofridas não é a atitude psicológica mais correcta e saudável. (…) Para perdoar é preciso previamente ter acusado. Só depois de acusar, mover o processo de inculpação, é possível o perdão, a amnistia, a clemência.
Acusar não é condenar, é esclarecer. A reconciliação com o inimigo de outrora só é viável – quando o é – após a libertação do ódio e ressentimento contidos. Com falso perdão ou pseudo-reconciliação não se constrói bem-estar psíquico nem bom relacionamento.
(…) há ofensas que não se podem nem se devem perdoar – o respeito por si próprio e a dignidade a que cada um tem direito traçarão o limite do perdoável. Nem sempre o perdão é necessário à saúde mental e social; pode ser inconveniente.
in Mais Amor Menos Doença
António Coimbra de Matos
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