quarta-feira, 10 de setembro de 2008


(no aeroporto)

Encolhida no meu mundo. Com a única vontade de querer voltar para onde, poucas semanas antes, tinha receio de ir sabe-se lá por que razão. Pequenina no meio do movimento do aeroporto, só queria passar despercebida no meio das pessoas agitadas e das malas que carregavam. Voltar para trás e apanhar o avião de volta? Por favor! Queria apreciar o meu momento antes de sair dali para fora, antes de encarar outro mundo bem diferente do verde e do azul, da paz e da liberdade, da humidade na pele e da água morna do mar, das brincadeiras e das piadas. Tomar consciência de que agora seria diferente e que tu também já não ias estar ali à minha frente, a tirar-me fotografias sem eu me aperceber nem a fazer-me rir . Que ias poucos dias depois apanhar o avião para o teu país frio. Estava ali encolhida, cheia de saudades da terra e das pessoas, cheia de sono e confusa com o tamanho dos dias porque fizemos directa e já não sabia se o ontem era hoje ou se o hoje fazia parte de ontem e dos dias anteriores em que também pouco dormi. Porque lá tem que se aproveitar o tempo e dormir quase que é pecado. Estavas atento e captaste-me ao longe, ali no chão, encolhida no meio das nossas mochilas. Quase que me levavas também o coração para o frio mas, como eu digo, o que interessa é pensar-se que se é racional. Atenua mais as coisas. Ou finge-se que atenua. Na mala trouxe pedras pretas das praias, no braço esquerdo a fitinha azul, que eu escolhi de entre essa e a cor-de-rosa, que a criança lá de casa me pôs toda contente sem conseguir dar os nós e a tatuagem, mais acima, que as meninas quiseram ter para imitar os meninos do grupo. Custou sair de lá, ser eu a arrancar com o carro emprestado, dizer adeus às pessoas. Mas ficar não ia saber muito melhor, porque cada um tem a sua vida, a sua rotina, o seu avião a apanhar para cada cidade. E, se assim não fosse, as férias não trariam tanto prazer e, na verdade, já falta menos de um ano.

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