domingo, 5 de outubro de 2008

Ultrapassei três anos numa tarde de choro. Achava eu. Na verdade passei os últimos seis meses a enganar-me. Conscientemente bastava não pensar, bastava encaixotar recordações e pensamentos. Era suficiente carregar no botão para mudar as músicas que me faziam pensar e evitar abrir a caixa das fotografias. Passar pelos sítios do costume e olhá-los de soslaio. Era simples, achava eu, apagar três anos de vivência. Era forte, achava eu, por conseguir racionalizar. Fui fraca. Mas hoje… hoje sim, quem aqui escreve é uma pessoa um bocadinho mais forte, porque de dia para dia, desde há pouco tempo, me permito pensar e enfrentar as pequeninas pedras no sapato que me faziam a dor na pele transformar-se em dor intrínseca. Hoje, sento-me no chão do quarto e abro a caixa das fotografias, pego nelas e passo uma a seguir à outra com os olhos rasos de lágrimas, que eventualmente me caiem para o colo. Porque o normal é que elas apareçam de vez em quando. Hoje ouço as músicas e não tenho medo de recordar, nem tenho medo de sentir as emoções que possam surgir, porque o normal é senti-las e não arrumá-las a um canto à espera que não acordem. Aprendi que quando mais se foge de algo, mais esse algo se torna persecutório, e eu não quero manter este capítulo aberto durante muito mais tempo. Falta ainda a coragem para ouvir a voz e o riso. Falta a coragem para ouvir as palavras do outro lado sem ter o coração aos pulos com medo de ouvir mais do que aquilo que suporto. Por enquanto. Mas hoje questiono-me se isso algum dia irá ser realmente necessário. O mais importante, agora, sou eu. Quero e preciso sentir que sou capaz de voltar a confiar, que sou capaz de voltar a dar o melhor de mim sem receio de me desiludir. Quero acreditar que não vou precisar de estar eternamente na defensiva, porque nem todas as pessoas o merecem. Seis meses depois tenho de desarrumar os três anos que vivi e voltar a integrá-los em mim com um novo formato. Tem de ser.

1 comentário:

rutinha disse...

e vais ver que tudo isso vai ser ultrapassado, é assim com toda a gente minha linda!dói mas vai passar :)