Desmontada e transportada pelas mãos de um brasileiro loiro e de um português de ar sujo e com piercing de ouro, foi assim que ela saiu da minha sala, dezasseis anos depois de ter entrado. A mesa de mármore branco, que ao longo destes anos todos assistiu e serviu de base a jantares e a almoços de família de Natal, a almoços de Páscoa, a conversas mais sérias, a propostas e a gargalhadas de cada um de nós. A mesa que ainda conheceu os meus avós. A mesa onde eu fazia os trabalhos da escola desde os meus sete anos e onde, mais tarde, eu ajudei o meu sobrinho a fazer os trabalhos dele da escola. A mesa onde foram assinados os papéis para a compra do meu carro, onde os cadernos do secundários deram lugar ao portátil e aos livros da faculdade e aos meus murros de irritação de vez em quando. A mesa onde chorei por não conseguir perceber as explicações de matemática do meu pai quando era pequenina. A mesa onde todos os anos era colocado o meu bolo de aniversário e que esteve presente na minha Primeira Comunhão, Profissão de Fé, Crisma e Baptizado do meu sobrinho. Aquela mesa viu-me crescer e só agora, horas depois de ela ter sido levada, e ao olhar para o vazio do espaço que ela ocupava e para as marcas que ela deixou no tapete, é que me apercebo que uma mesa nunca pode ser só uma mesa.
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