Eu, que sou insuportavelmente agarrada às recordações e aos mínimos objectos que representem algo para mim, fiquei nostálgica ao ver certas coisas que tiveram presença em certos momentos da minha vida a ir embora na posse de pessoas estranhas. O vestido encarnado curtinho de pano que era da minha irmã mas que, numa noite de Verão açoriano, foi apertado pela minha mãe para o poder usar numa festa de anos de gente adulta. A mala de pele trabalhada, já antiga e desgastada que me ofereceram já em segunda mão. Ambas as coisas compradas por duas raparigas que se mostraram felicíssimas por as ter. Fico a pensar que realmente ficaram em boas mãos. A mala viajou para Itália ao ombro da rapariga simples, de ar tímido e simpático. O vestido, imagino que vá fazer muito boa gente voltar-se para trás para olhar uma segunda vez para a rapariga morena. Custa despedir-me de certas coisas, mas convenci-me que não motivo para mantê-las numa arrecadação escura quando podem continuar a ter vida e a deslumbrar nas mãos de outras pessoas.
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