Sentada no chão de madeira do meu quarto abro a caixa grande e pesada. Lá estão os meus doze diários, escritos desde os doze até aos quinze anos, cada um com cadeado, porque lá dentro há segredos. Há frases escritas a cores, corações recortados em papel cor-de-rosa, pequenas flores oferecidas à saída do liceu e, sobretudo, inocência. O intuito é rever a minha estória, agora com olhos de quem já é capaz de detectar sinais e sintomas, para ajudar de algum modo o longo caminho que começou há dois anos, do lado de cá primeiro. Em vez disso, perco-me na caligrafia, que muda conforme as novidades sejam boas ou más; na simplicidade da descrição daquilo que se sente, sem grandes dúvidas, sem medo das circunstâncias; na forma simples como se ultrapassava o que hoje demora a ultrapassar. As primeiras danças, os primeiros beijos, as primeiras conversas envergonhadas sem olhos-nos-olhos. As primeiras emoções e sensações. Ainda bem que registei tudo, mesmo que custe recordar pela nostalgia e saudade que causa.
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