sexta-feira, 23 de novembro de 2007

recordações de areia

Tenho uma colecção de frasquinhos de vidro, pequeninos, com areia lá dentro. Não sei quantos tenho, mas posso dizer que não são tantos quanto gostaria de ter na prateleira. Quando visito um lugar, faço sempre questão de roubar um bocadinho de areia como recordação. Podia ser uma pedra, conchas, folhas de árvores para elaborar um herbário como as rapariguinhas faziam antigamente, mas não. É areia-não-sei-porquê.
Se calhar, porque acho graça ao imaginar que estes grãozinhos já fizeram parte dum castelo construído por uma criança que sorriu, orgulhosa, ao mostrá-lo aos pais. Ou porque já estiveram no contexto de um primeiro beijo. Daqueles beijos que ficam na memória de qualquer menina, apaixonada pela primeira vez, de uma forma tão inesquecível que são capazes de recordar admiravelmente do instante em que a respiração passou de serena a ofegante, dos olhos no chão porque o embaraço não deixa enfrentar os olhos em frente, do momento em que lhe afastaram a madeixa de cabelo da cara por estar a atrapalhar o desenrolar do passo seguinte…
Gosto de ver os frasquinhos ao lado uns dos outros, abri-los, e verter uma pequena porção de areia na minha mão e, além de imaginar histórias agradáveis, descobrir como os grãos de areia são mais finos ou mais escuros que os outros, do outro frasco ao lado. Eu sei que é batota, mas alguns frasquinhos têm areia que outras pessoas roubaram para mim. Mas, no fundo, não é assim tão mau porque eu tenho quase a certeza que, um dia, irei a esses sítios de areia roubada por outros e vou devolvê-la para, depois, poder ser eu a escolher o bocadinho de areia que quero que fique rotulada na prateleira. É que, nessa altura, terei certamente histórias reais para recordar. Até lá, mais vale prevenir e deixar tudo como está.

1 comentário:

Anónimo disse...

está fantástico!!!!!