domingo, 6 de abril de 2008

1+1+1

Foi há três anos. Cheguei de manhã, vinda do outro lado do atlântico depois de uma viagem de oito horas, e durante todo esse tempo (mais as duas semanas que antecederam), só queria pôr os pés em Lisboa e correr para um abraço. Foi há três anos. Lembro-me irrepreensivelmente da t-shirt branca, calças de ganga, suspensórios verdes e guitarra a tiracolo. Sorri quando o vi de costas, só podia sorrir. Fiquei ali, a observá-lo, até olhar para trás. Abraçámo-nos e eu fechei os meus olhos com força, enterrei o meu nariz na pele morena para sentir o cheiro que me fazia falta sem saber.

Tenho em mim as longas noites em que “invariavelmente o amanhecer nos apanhava à conversa” sentados em degraus de prédios, em bancos de jardim, ou em raízes de árvores. Na minha grande caixa de recordações, tenho as rolhas do champanhe que de vez em quando faziam parte dos nossos passeios nocturnos; pedaços de papel rasgados das mesas de café com dedicatórias; a caixinha onde vinha a joaninha verdadeira de presente; todos os mails; os bonecos de plasticina; todos os bilhetes de locais e concertos que visitámos; os mapas da nossa Veneza magnifica e, mais importante, as pautas de piano da minha música. Mais do que tudo isto, tenho em mim as palavras sussuradas ao ouvido; os risos; os olhos nos olhos; as mãos dadas pelas cidades; as danças no meio da rua; os beijos roubados; os disparates; o termos estado perdidos pelo Lido e o poder de uma paixão. O detalhe: as pintinhas do olho direito.

Depois de tudo isto (e daquilo mais que tu sabes), triste seria não dizer que gosto de ti.

1 comentário:

Eduardo César disse...

Les houles, en roulant les images des cieux,
Mêlaient d'une façon solennelle et mystique
Les tout-puissants accords de leur riche musique
Aux couleurs du couchant reflété par mes yeux.

Baudelaire