Tenho em mim as longas noites em que “invariavelmente o amanhecer nos apanhava à conversa” sentados em degraus de prédios, em bancos de jardim, ou em raízes de árvores. Na minha grande caixa de recordações, tenho as rolhas do champanhe que de vez em quando faziam parte dos nossos passeios nocturnos; pedaços de papel rasgados das mesas de café com dedicatórias; a caixinha onde vinha a joaninha verdadeira de presente; todos os mails; os bonecos de plasticina; todos os bilhetes de locais e concertos que visitámos; os mapas da nossa Veneza magnifica e, mais importante, as pautas de piano da minha música. Mais do que tudo isto, tenho em mim as palavras sussuradas ao ouvido; os risos; os olhos nos olhos; as mãos dadas pelas cidades; as danças no meio da rua; os beijos roubados; os disparates; o termos estado perdidos pelo Lido e o poder de uma paixão. O detalhe: as pintinhas do olho direito.
Depois de tudo isto (e daquilo mais que tu sabes), triste seria não dizer que gosto de ti.
1 comentário:
Les houles, en roulant les images des cieux,
Mêlaient d'une façon solennelle et mystique
Les tout-puissants accords de leur riche musique
Aux couleurs du couchant reflété par mes yeux.
Baudelaire
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