Tenho inúmeras caixas de cartão grosso, de vários padrões, espalhadas pelo meu quarto. São caixas com pedacinhos daqui e dali, pedacinhos da minha presença, do meu movimento no mundo. Sempre dei valor aos pormenores, como um desenho num pedaço de folha rasgado, uma pena apanhada do chão numa ocasião especial, um papel de embrulho de jornal que trazia dentro o meu presente de anos. A partir de cada lembrança mínima sou capaz de contar a história de uma vida. São estas riquezas que me enchem os olhos, desprendidas de vulgaridade e de valor para os outros. Tenho uma caixa cheia de colares, colares que comprei quando era dez anos mais nova; colares que me ofereceram de presente em papel de embrulho; colares que foram retirados do pescoço de alguém e postos na minha mão com a promessa de uma eterna recordação; colares escolhidos em areais da praia aqui ao lado e de praias bem mais distantes. Ao lado, uma caixa cheia de pulseiras. Outra de brincos e mais uma de anéis. Uma outra caixa cheia de sorrisos, frios na barriga, de bilhetes de programas em conjunto, de desenhos e textos em prosa escritos de um país de leste para atenuar a saudade. Uma caixa com os meus diários, que são mais que muitos, e de postais de anos e outros. Outra caixa repleta de fotografias. Fotografias. Fotografias. Depois, a caixa que tem o mais fantástico: a máscara comprada numa rua estreita de Veneza e o que restou das brincadeiras com plasticina numa noite de Verão. Agora tenho mais uma, rectangular e com tons serenos, lá dentro tem roupinha de bebé e um amor que cresce cada vez mais. Mas esta última vai mudar de morada em breve.
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