quinta-feira, 29 de maio de 2008

Malas feitas, aqui vou eu!

tentei.

Tentei sem exageros, sem assustar. Mas pelos vistos não basta demonstrar que se adora, não basta que o primeiro pensamento ao acordar voe para ele, nem basta deixá-lo invadir-me os sonhos noite sim noite não. Não bastam as saudades do corpo nem das palavras, não bastam as saudades da reciprocidade do sorriso, do carinho e dos olhares. Não basta a preocupação, não basta o amor. Nada chega porque há outras forças, que não conheço, que se impõem.
Vou levantar-me da queda, sacudir a poeira dos joelhos e das mãos e reconstruir os cacos da alma. Já!

29 Maio 2002

Faz hoje 6 anos...

parabéns

A minha querida I. faz anos hoje. Um dia muito feliz!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

14.Fev.2006


(photografia por Jane)
Ela podia ser qualquer pessoa.
Chamou-me a atenção não pelo tempo que ali esteve sozinha, mas sim pelo tempo que ali esteve sozinha, longe da confusão da cidade, naquele dia em especial.
Naquele dia, eu estava só uns metros mais longe, transbordavam-me risos dos lábios, paixão dos olhos e não estava sozinha.
Hoje percebo-a. Ela podia, realmente, ser qualquer pessoa.

terça-feira, 27 de maio de 2008

sobrinho

O sobrinho veio dormir cá a casa e de manhã ao ver-me a arranjar para sair: "Oh Nana que sorte podes vestir o que queres para ir para a escola e eu tenho de vestir farda!". Depois à saída vê-me a pegar na mala: "Não tens livros para levar? E não tens mochila? Que sorte...". Mal sabe ele que quando estiver na faculdade, vai querer voltar a ter 9 anos.

Chiado.2006


(Jane)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Este ano, a primavera chuvosa e cinzenta está de braço dado comigo.

domingo, 25 de maio de 2008

Começo a sentir o cansaço da força que me obrigo a ter desde há uns tempos. Enfrentar todos dias o que aí vem com a firmeza de uma rocha que repetidamente leva com a batida das ondas do mar de inverno. Dizer que estou bem mesmo quando isso não é verdade, mas obrigar-me a dizê-lo só para não incomodar, só para não fraquejar quando, no entanto, é comigo que os outros fraquejam e é comigo que os outros falam sem se importarem se incomodam ou não. Começo a sentir o cansaço de não me permitir pensar mais do que consigo tolerar, cansaço de lutar contra a enxurrada de lembranças que depressa surgem, por associação de ideias, a partir das coisas mais banais do meu dia-a-dia e que me trazem as melhores recordações que neste momento são as que mais doem. O peito aperta-se, contorce-se, mas não sai uma lágrima, nem uma para aliviar a angústia da saudade. Nunca mais chorei desde aquele dia. Sinto cansaço de me obrigar a ser estóica e a engolir as palavras que me trepam pela garganta e que se acumulam na pontinha da língua porque não as deixo sair. Só porque não posso ceder. Muito menos contigo, que não me dás essa chance.

sábado, 24 de maio de 2008

coisas

Entretanto a minha mãe teve a feliz ideia de me recordar que quando eu era pequenina dizia que o Aqueduto das Águas Livres eram supositórios. Naquela altura já eu tinha uma visão diferente das coisas. Mas verdade seja que até têm forma disso.
O que fazer quando as saudades são tantas que já não espaço para elas cá dentro? Dou-te um bocadinho?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

nós

Mesmo ficando algum tempo sem nos encontrarmos, a verdade é que sempre que estamos juntos é como se não tivesse passado mais do que um dia. As conversas, algumas já típicas, o que nos faz rir, os feitios que já não mudam e que já se conhecem de cor. São os amigos de liceu e trazem gravadas na pele e nos sorrisos as lembranças dos tempos de adolescente. É inevitável sentir-me novamente com 17 anos sempre que nos juntamos.
Todos os bocadinhos sabem bem, é como se renovassem a alma mesmo quando não estão todos presentes, como hoje. É assim que me sinto.

As tais árvores de copa roxa espalhadas pela cidade


(Photografias por Jane)

sonho

Esta noite sonhei que me tinha candidatado para ser motorista de autocarros da Carris. Felizmente, acabei por ser despedida antes mesmo de começar a trabalhar porque cheguei atrasada logo no primeiro dia. Entregaram-me um papel onde dizia: "neste serviço, como em qualquer outro, não se toleram atrasos."
Já fiquei a saber.

coisas

de tantas coisas que consigo fazer ao mesmo tempo, ler e ouvir música simultaneamente é algo para o qual não tenho competências.
A caixa grande no chão do meu quarto está cheia de sorrisos, de trocas de olhares, de montanhas-russas na barriga, de conversas de café, de conversas nocturnas ao ar livre, de silêncios confortáveis, de olhos nos olhos, de esperas de noticias vindas de longe num verão passado. Estando tanta felicidade lá dentro, como é que posso ter coragem de a abrir agora?

(photografia por Jane)

O Cabo da Roca lá bem ao fundo...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tenho saudades de ouvir "mi" pertinho do ouvido.

domingo, 18 de maio de 2008



Lembro-me de mim sentada nestas raízes,
em noites de ar quente de verão.

Hoje de tarde o sol chamou-me para a rua. Apetecia-me ver pessoas e sentir o sol a queimar a cara e os braços. Percorri as ruas perto de Alfama e da Baixa e acabei sentada, a meio da Rua Augusta, num degrau. À minha frente estavam os índios a tocar as flautas de pã do costume. Não me importo que eles sejam já um hábito por aquela zona, gosto sempre de ouvir as músicas mais, ou menos, originais que eles têm para oferecer a quem quer que passe. Hoje, por se aplicarem mais por ser sábado ou talvez por ter ficado mais tempo a ouvi-los, soou-me bem melhor do que quando passo por eles à pressa. Sentei-me, então, no degrau, de frente para todas aquelas penas coloridas, caras pintadas, cabelos negros compridos entrançados, flautas de pã e tambores. Eles sorriam e o meu pé batia levemente no chão a marcar o ritmo.

Admito que corri o fecho da mala umas duas vezes para pegar no telemóvel e enviar uma mensagem a dizer que estava ali. Mas não tive coragem. Precisava de estar sozinha no meio da multidão. Estar ali sentada de corpo franzino e óculos escuros e sentir-me tanto notada como ignorada.

Entre mim, e o sítio onde eles estavam, passaram centenas de pessoas durante aquela hora e pouco em que ali estive parada. Vi o sol a esconder-se atrás das escassas nuvens brancas e a trazer o ar mais frio, que me fez vestir o fino casaco de malha, e a voltar a aparecer e fazer-me despir novamente o casaco. Tive tempo para ver uma criança a ser o centro das atenções porque dançava ao som da música dos índios. Tive tempo para ver um mendigo de barbas grisalhas e pele estragada pelo sol, em roupas quentes e chapéu azul, completamente estático no meio das pessoas que se movimentavam para lá e para cá. Notava-se que estava no seu próprio mundo há muito tempo e que já nada mais importava. Tive tempo para ver uma mulher a ajudar o marido a levantar-se do degrau ao meu lado, onde parou para descansar e donde tinha dificuldades em se levantar. Foram os dois embora abraçados. Tive tempo para observar, fazer suposições e imaginar histórias de vida de algumas pessoas que paravam perto de mim a assistir aos índios. Por mim passaram todo o tipo de andares, todo o tipo de expressões faciais e características; pessoas daqui e dali que eu queria que me levassem com elas; caras risonhas e até chorosas e outras totalmente neutras. Estava completamente absorta naquele cenário que me proporcionava todo o tipo de histórias utópicas, que mal dei conta que um rapaz se tinha sentado ao meu lado e que estava a falar comigo. Trocámos algumas palavras em inglês e quando dei conta estava a ser puxada para dançar. Uns segundos depois estava a dirigir-me para o Terreiro do Paço. Já não fazia sentido permanecer ali.

sexta-feira, 16 de maio de 2008


(Jane)

o que dá jeito:

ter um vizinho novo que me traz filmes à porta.

coisas

Assisti no outro dia numa loja de roupa:
ela - "Esta gente não sabe fazer calças! Não passam do meio das pernas!"
ele - "Uma coisa é não gostares das calças, outra coisa é acusares quem as faz. Tu tens as coxas grossas, queres o quê?!"
ela - "Vai po c$%&#%o! Só sabes fazer comentários tristes meu c%&$%o de m%&#a!"

quinta-feira, 15 de maio de 2008

hoje

Tarde de chuva irritante. Roupa inadequada para a cor do dia. Desviar da água das poças. Desviar da água que os carros espirram. Alguém que já não me fazia companhia há uns meses. Passar os dedos pelos titulos das capas dos livros porque são atractivos: têm cores e estão em relevo.

terça-feira, 13 de maio de 2008

aproximações


A minha imaginação continua a deixar-me decifrar as formas das nuvens quando desvio o olhar para cima. Sou assim desde pequenina. Lembro-me de ter uns quatro anos e ter medo de sair do prédio porque via no céu um dragão-nuvem.

faceta artistica testada

Aprovado.

domingo, 11 de maio de 2008

espreitar pela janela


(photografia por Jane)

sábado, 10 de maio de 2008

"Néant"


D.B.R.

Um lugar repleto de serenidade, que gostava que saisse do papel, para que fosse possivel eu percorrer o caminho cor de areia com os pés descalços e o corpo envolto em nada, e um sorriso escancarado caso as pegadas ao lado das minhas fossem as tuas.
Ocupo pouco espaço no mundo.

sexta-feira, 9 de maio de 2008


Porque me apaixonei, por vários motivos, quando o vi há dois anos.
Não quero sentir uma montanha-russa na barriga de todas as vezes que me recordo de ti.
Quero sentir uma montanha-russa na barriga ao mesmo tempo que a minha pele se arrepia com o teu toque.

quinta-feira, 8 de maio de 2008



Da minha janela vejo a lua a crescer.


(photografias por Jane)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Os meus olhos brilham para as árvores de copa roxa salpicadas pela cidade.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

na sombra do cipreste


(photografia por Jane)

Ela acorda tarde. Noutra altura qualquer o motivo teria sido por ter ficado até às tantas a ler, ou a ver filmes, mas desta vez não. Aliás, nos últimos tempos não é isso que acontece. Ela acorda tarde porque não consegue adormecer. A partir do momento em que encosta a cabeça na almofada e afasta os cabelos para não lhe fazerem calor, todas as coisas que durante o dia tenta manter afastadas do pensamento resolvem aparecer. É quase como que se abrissem as portas de um armário que está atafulhado de coisas até cima durante muito tempo e tudo caísse para o chão num abrir e fechar de olhos. O silêncio e o escuro do quarto despoletam os pensamentos que, agora, parecem fluir com uma facilidade assustadora. Vira-se para o outro lado, como se isso fosse espantar o que se passa dentro dela, mas sem qualquer efeito. Algum tempo depois começa a conseguir adormecer, mas logo nos primeiros instantes é a cara dele que surge. É tão fácil para ela fechar os olhos, seja onde e quando for, e traçar mental e perfeitamente os contornos do corpo dele sem esquecer um único pormenor. Desde a linha do cabelo, passando pelos contornos perfeitos do pescoço. O toque na pele morena e macia ainda lhe permanece na ponta dos dedos. Finalmente adormece.

domingo, 4 de maio de 2008

medo

do que o médico amanhã me vai dizer.

sábado, 3 de maio de 2008

Se páro para pensar no que se passa, enlouqueço.

Hoje

Impressionou-me descer o Alvito, à noite, com as luzes estáticas da ponte como paisagem e com o efeito da luz das velas que cada um de nós trazia na mão.
Emocionou-me o andor, que ia à frente, ter parado exactamente à porta de casa da minha avó.
Gostei de ter percorrido as estradas, do sítio onde cresci, a pé, sem quaisquer preocupações, e com o ribombar dos tambores à minha volta.
Obrigar-me a engolir, com dificuldade, a vontade de ligar para combinar um encontro de cinco minutos na Praça ao pé de casa. Só porque não quero insistir, não quero incomodar.

Praia II


Os tons do mar.

Os pés na água.

Os pés na areia

A pegada.

Post Scriptum

Saudades. Amo-te. Beijo.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Há 8 anos...

...carregava o meu discman verde na mochila para ouvir música no autocarro e nos intervalos, no muro do pátio do liceu, mas com todos os cuidados, se não arriscava-me a ouvir a música aos solavancos. Tinha de me limitar a um único CD, ou então, levar à parte uma bolsa do mesmo tamanho do discman, cheia deles.

...tinha uma mochila cinzenta e azul-escura da Quicksilver, que usava só pendurada por uma alça ou então com as duas alças e abaixo do rabo, de preferência.

...usava um guizo nas calças que se ouvia à distância e uma pulseira tipo fio-de-lavatório com mais um guizo e uma chave de cadeado. Também usava atacadores grossos, de cores. Bem, na verdade, queria ser dread.

...recebi o meu primeiro telemóvel. Era verde, tinha um visor rectangular minúsculo, era pesado e fazia questão de usá-lo no bolso das calças. Dávamos constantemente toques uns aos outros, coisa que ainda hoje não percebo por que fazíamos, mas na altura era importante.

...passava as noites no mIRC e baldei-me a uma aula pela primeira vez.

...tinha de colocar o olho no buraquinho da máquina fotográfica e passar o dedo para rodar uma peçazinha, de modo a colocar a máquina pronta para a próxima fotografia.


Há apenas 8 anos eu tinha 14 anos e era tudo bem diferente.

"Blue moon
You saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love on my own…"
Ouve a rádio à meia noite. A primeira música é para ti.

O Caetano Veloso cantou.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

Alberto Caeiro

trancada em mim