sexta-feira, 31 de outubro de 2008


De repente, ele por todo o lado.
Na orelha, no pulso, na pele, no nariz e no sorriso.

dentro da barriga [XIV]

Hoje foi dia de ecografia. Só tinha ido à primeira de todas, quando a missanguinha ainda só tinha nove semanas. E hoje, às vinte e duas semanas, houve oportunidade de voltar a ir. Entrei na sala semi-escura, com duas televisões, e segundos depois a imagem do meu sobrinho apareceu. A preto e branco. De perfil, com as duas mãos em frente à cara e uma delas de punho cerrado. Vi perfeitamente o coração a bater, tão cheio de vida. Acho que até as quatro cavidades consegui distinguir. Sei que foi instantâneo, mal a imagem apareceu na televisão os meus olhos encheram-se de lágrimas e o meu coração de ternura. É mais forte do que tudo.
Sem dúvida que me fazes sentir bem e isso já é tanto...

Splendour in the Grass - Wordsworth

What though the radiance
which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass,
of glory in the flower,
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Há conversas de todo o género. E há pouco tempo tive uma daquelas conversas que não surgem por acaso, são aquelas conversas que precisam de acontecer mais tarde ou mais cedo, não são inevitáveis, mas precisas. Foi por impulso, já que uma percentagem significativa dos meus comportamentos são regidos desta forma, mas mesmo assim respirei fundo antes de marcar o número. Fui para a janela ver o vento a abanar a enorme copa da árvore em frente e só me perguntava o que é que, meses depois, lhe poderia dizer mal ouvisse o “estou” do outro lado. Falar do vento? Ficar em silêncio e esperar que ele falasse? Ou melhor, avisá-lo para não abrir a boca e deixar-me falar aceleradamente como faço quando estou mais nervosa. Esta última pareceu-me a mais justa e sensata, mas não foi assim que aconteceu. No primeiro minuto mal conseguia articular as palavras e do vento falei depois. Falei, chorei, assoei-me, satirizei certas situações, verbalizei os meus pensamentos mais absurdos e obtusos como se estivesse a falar para o espelho. Tinha de ser, era tão preciso! Depois de despejar o que estava na ponta da língua para ser dito há muito tempo, mas que era constantemente empurrado para a garganta e fechado com o conhecido “nó”, senti-me mais serena e sobretudo mais capaz de continuar em frente. Foi bom escutar a voz de sempre mas que ao mesmo tempo já não o é e que já não tem a mesma função. Agora já sei o que se passa do outro lado da “linha” e isso descansa-me.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Estou a tentar e, se calhar, aos bocadinhos vou conseguir lá chegar. Ajudas-me?

ainda a catarse

Todos os dias dói, todos os dias penso, todos os dias faço tentativas. Foste para mim mais do que suspeitas, nem eu sabia que tivesses sido tanto. Era mais fácil que nunca o tivesses sido, mas não há nada que não me fizesse voltar atrás e passar por todos os momentos bons, mesmo sabendo que ia ter um fim.

domingo, 26 de outubro de 2008

Hoje, entre conversas e fofocas, eu e a D. empanturrámo-nos de crepes cobertos com creme de chocolate feito na altura. Soube tão bem!

dentro da barriga [XIII]

Ontem a minha irmã pegou na minha mão calmamente e colocou-a do lado direito da barriga que já está bem grande. Senti umas quantas pancadinhas leves e fez-me crescer um sorriso de orelha a orelha, tão sincero!

sábado, 25 de outubro de 2008

ontem

tive a minha primeira cena-cliché. Com direito a buzina a apitar porque resolveu atravessar a estrada a correr até mim, abraço forte e palavras sussurradas ao ouvido.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

há sinceridades dispensáveis.


Dúvidas. Factos. Receios. Beijos roubados. Amuos. Dúvidas. Sorrisos. Abraços. Consequências. Mensagens. Dúvidas. Decisões. Tardes. Músicas. Desconfiança. Ciúmes. Dúvidas. Terças. Sextas.

Por enquanto não passa disto mesmo: uma sombra do que poderá, ou não, vir a ser.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

13º/2005

Tenho saudades do meu último ano no liceu. O meu 13º ano (como dizia o V., porque fiquei a repetir matemática). Sinto falta da força de algumas amizades que entretanto se desvaneceram com o passar do tempo e com a distância. Sinto falta de descermos a rua todos juntos, depois das aulas, cheios de palhaçadas, de tropeções, de conversas e de lições de moral. Sinto falta dos corredores do liceu, do toque para o intervalo, das tostas de pão-de-leite a meio da manhã e das batatas fritas. Sinto falta de chegar de carro com o pai, de mochila às costas e cumprimentar o porteiro enquanto passava pelo portão. No meu 13º ano houve direito a montanha-russa na barriga, a abraços nos corredores e a entrar no páteo do liceu de madrugada. Fez tudo parte dum ano memorável.
É por estas e por outras que construí um muro quase impenetrável à volta da caixa dos sentimentos.

a caminho...

Ruas e lojas já com enfeites de Natal. Em pleno Outubro. E faz-me sorrir.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Depois de um dia de transportes, de stress e de aulas, o que me dá mais prazer é vir para casa, ao final do dia, e relaxar o corpo e a mente com exercicios de ginástica e dança. Um dia espero ter uma casa com uma sala enorme só para mim, para poder expressar-me à vontade, sem limites e poder entrar no meu mundo com uns passinhos de dança.

feelings

Entre acumular sentimentos e bloquear sentimentos, não sei o que é pior.

dentro da barriga [XII]

O nome para o baby está complicado de decidir. Cada semana se decide um diferente e nunca há um consenso, foi então que o meu sobrinho (o mano mais velho do baby) teve um pensamento sensato: escolhemos no Natal, em família.

Já se começa a sentir a falta de novo.

domingo, 19 de outubro de 2008

Será que o meu problema é o resultado da diferença dar cinco, ou é a dificuldade em confiar?
No outro dia chamaram-me miúda, um amigo mais novo que eu. Semi-cerrei os olhos e pensei em barafustar um bocadinho, mas rapidamente fiz o raciocinio inverso e fiquei contente. Espero continuar a ser chamada de miúda durante muito mais tempo. É bom sinal.
É bom ouvir falar mariense e jorgense depois do verão, já na minha cidade, e ao meu lado. Ouvir os termos próprios e recordar momentos do verão. Rir à volta duma mesa numa esplanada no meio de prédios, encasacados por causa do frio e com o cansaço de ter acordado cedo para ir assistir às aulas. Um cenário bem diferente do que costuma ser, sem calor, sem os cheiros próprios e sem o cansaço de um dia inteiro de praia. Não deixa de ser um bocadinho estranho, mas é bom.

Muitas vezes apetece-me desistir de tudo. Enervo-me, venho para casa esbracejar com jeitos dramáticos, coloco a voz num tom acima e falo e falo, irritada. É em jeito de desabafo, não passa disso, eu sei que não. Daí fazê-lo como se estivesse a representar, pois na verdade nem eu me levo a sério. Porque sei que no dia seguinte me vou voltar a sentar na fila da frente, de lábios semi-abertos de espanto, de olhos esbugalhados de curiosidade, com sede de saber mais e com a caneta azul na mão sempre pronta para anotar tudo.

sábado, 18 de outubro de 2008


(photografia por Jane)

Este silêncio começa a custar-me tanto...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O abraço hoje custou-me tanto... até o cheiro me ficou na roupa e na pele. Acho que foi uma despedida, pelo menos até eu me aperceber da falta.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

coisas

Por que é que as pessoas que vão ao meu lado no autocarro têm a mania de falar comigo se vêem que estou com os phones postos?

Já me fizeste sorrir mais do que deixo transparecer.
E nem sei se algum dia te deixarei saber...
Tenho em mim sentimentos que nunca quis. Invadiram-me. Desconheço-me e não gosto.

Não sinto falta, a sério que não sinto.

Acho que esgotei a vontade e a paciência, e agora não tenho nenhuma previsão de quanto tempo vou precisar para voltar ao estado de quase-tábua-rasa. Talvez o problema seja mesmo esse, é impossível atingir o estado de quase-tábua-rasa porque é impossível voltar ao início. A paixão é maravilhosa mas tem tempo limite. Hoje sei que acaba e isso mói a cabeça e suscita dúvidas, pelo menos ultimamente. Antes era fácil para mim. Sorriso pateta preso nos lábios, coração a mil e pensamentos cor-de-rosa que dificultavam a hora de adormecer, a preocupação eram as saudades e a marcação de encontros. E os planos, tantos planos… principalmente na minha cabeça. Voou tudo, como quase sempre voa, e até me lembrar vou continuar a defender-me e a achar que só uma coisa, um dia, me poderá fazer mudar de ideias: um abraço. Mas daqueles.

Por enquanto não sinto falta, a sério que não sinto.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

e quando o sol parece começar a querer aquecer-me o coração...


(photografia por Jane)

... eu defendo-me do que não há para defender, tento não perder o controlo que não tem de existir e morro de medo.

domingo, 12 de outubro de 2008

dentro da barriga [XI]

Hoje, pela primeira vez, o meu sobrinho quis que eu o sentisse dentro da barriga da mãe. Claro que toda eu era sorrisos, no meio do centro comercial. Foi um cumprimento fraquinho, porque ele ainda é pequenino, mas soube tão bem... parece que ainda o sinto na palma da mão.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

I choose to hide
But I look for you all the time
I choose to run
But I'm begging for you to come
RitaRedshoes

domingo, 5 de outubro de 2008

Ultrapassei três anos numa tarde de choro. Achava eu. Na verdade passei os últimos seis meses a enganar-me. Conscientemente bastava não pensar, bastava encaixotar recordações e pensamentos. Era suficiente carregar no botão para mudar as músicas que me faziam pensar e evitar abrir a caixa das fotografias. Passar pelos sítios do costume e olhá-los de soslaio. Era simples, achava eu, apagar três anos de vivência. Era forte, achava eu, por conseguir racionalizar. Fui fraca. Mas hoje… hoje sim, quem aqui escreve é uma pessoa um bocadinho mais forte, porque de dia para dia, desde há pouco tempo, me permito pensar e enfrentar as pequeninas pedras no sapato que me faziam a dor na pele transformar-se em dor intrínseca. Hoje, sento-me no chão do quarto e abro a caixa das fotografias, pego nelas e passo uma a seguir à outra com os olhos rasos de lágrimas, que eventualmente me caiem para o colo. Porque o normal é que elas apareçam de vez em quando. Hoje ouço as músicas e não tenho medo de recordar, nem tenho medo de sentir as emoções que possam surgir, porque o normal é senti-las e não arrumá-las a um canto à espera que não acordem. Aprendi que quando mais se foge de algo, mais esse algo se torna persecutório, e eu não quero manter este capítulo aberto durante muito mais tempo. Falta ainda a coragem para ouvir a voz e o riso. Falta a coragem para ouvir as palavras do outro lado sem ter o coração aos pulos com medo de ouvir mais do que aquilo que suporto. Por enquanto. Mas hoje questiono-me se isso algum dia irá ser realmente necessário. O mais importante, agora, sou eu. Quero e preciso sentir que sou capaz de voltar a confiar, que sou capaz de voltar a dar o melhor de mim sem receio de me desiludir. Quero acreditar que não vou precisar de estar eternamente na defensiva, porque nem todas as pessoas o merecem. Seis meses depois tenho de desarrumar os três anos que vivi e voltar a integrá-los em mim com um novo formato. Tem de ser.

dentro da barriga [X]


a minha mão na casinha do sobrinho.
"Os Inúteis" de Fellini na televisão, à minha frente. Ajuda à catarse.
Tenho vontade de voltar a escrever os meus textos, mas custa-me pensar na sequência das palavras. Sei que brevemente os meus dedos vão voltar a teclar ao mesmo ritmo que o pensamento, sem ser preciso fazer paragens.