sábado, 29 de novembro de 2008
Ontem saltei por cima de poças de chuva. Andei de braço dado e abraçada debaixo de um chapéu-de-chuva minúsculo numa Rua Augusta quase deserta. Molhei-me e molhei por ter ataques de riso enquanto segurava o chapéu. Fui de uma ponta a outra da cidade enroscada no braço esquerdo e com dedos entrelaçados. Ri e fui chamada à atenção por estar a falar alto, tantas vezes, que perdi a conta. Cheguei a casa com os cabelos encharcados, com o corpo húmido da chuva que molhou o casaco, mas com o coração a ferver de contentamento.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
coisas
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
O tempo passa, é inevitável. Às vezes tão devagar que dá a impressão de estar a mergulhar num buraco escuro e vazio, sem nunca chegar ao fim, sempre suspensa por fios de nylon tão finos que basta um pequeno gesto para se quebrarem e cair a uma velocidade alucinante, com um ar tão denso e quente à minha volta que quase corta a respiração, que arranha as narinas ao inspirar e que sufoca na garganta. Outras vezes passa a correr. Dou por mim desnorteada, sem me conseguir orientar no tempo, a achar que o ontem se fundiu com o hoje e que as horas se reduziram a segundos. É quando o sorriso não se desvanece, é quando o coração se ouve a bater no silêncio. O tempo traz mudanças, sempre. Sejam elas catastróficas ou quase imperceptíveis. Podem começar numa pequena ruga que fica mais vincada nos cantos dos lábios ou a meio da testa ou na perda ou ganho de algo realmente significante. A mudança, seja ela qual for, assusta, mas não a podemos impedir de se manifestar. Assusta, magoa, mete o dedo na ferida, ou então afaga-nos a cabeça e ajuda-nos a seguir em frente. Às vezes muita mudança não traz nada, outras vezes, traz quase tudo. Ou, pelo menos, traz um pormenor que muda tudo.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
hoje, no autocarro
...
filho: "primeiro, segundo (...) vigésimo."
mãe: "sabes como se diz trinta? trigésimo"
filho: "e quarenta?"
mãe: "quatragésimo, depois cinquagésimo, seixasésimo, setagésimo (...)"
terça-feira, 25 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
domingo, 23 de novembro de 2008
Domingo
sábado, 22 de novembro de 2008
oh
Hoje perguntei-lhe desde quando é que tínhamos esta “ligação” ainda sem nome. Não sei se foi desde o primeiro dia em que nos vimos e que colocou a cabeça no meu colo a pedir cafuné, se foi da primeira vez que me roubou um beijo ou se foi na tarde do abraço catártico que durou minutos e minutos. O que eu sinto é que a empatia foi imediata, ou quase imediata, e isto comigo é raro acontecer. Passei de tardes e dias seguidos a defender os meus sentimentos de escudo em punho e a fugir, literalmente, agarrada à minha mala, para tardes aninhada nele, a ver filmes e de dedos entrelaçados. Gosto do que estamos a construir aos poucos. Gosto da não pressão, dos não rótulos, dos sentimentos que estão a crescer sem pressa. Gosto das gargalhadas no ouvido das argolas iguais nas nossas orelhas do sorriso fantástico que me faz derreter dos olhos pestanudos que fazem comichão na minha bochecha do Oh! da pele que se arrepia com o meu toque das mãos dadas na rua da expressão quando finge que dorme de enterrar a cara no pescoço do cheiro do cabelo castanho claro de percorrer o dedo da testa até ao queixo de despentear o cabelão de embirrar dos beijinhos nos olhos fechados da veia do pescoço das covas no final das costas dos pés entrelaçados de pegar em mim como se eu fosse um pinypon de morder os ombros largos do sinal no dedo da cicatriz igual à minha no indicador direito da preocupação dos abraços dos abraços dos abraços onde me sinto pequenina e com um sorriso gigante de olhos fechados.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Aninhada num metro e noventa de corpo quente e carregado de carinho, senti-me protegida e mimada como não me sentia há anos. Uma noite inteirinha até quase acordarmos o sol, embrulhados em conversas sérias que serviram para esclarecer muita coisa e para me aperceber de outra tanta. Não sei o que está para vir e se tento pensar nisso aflige-me. Fico com medo e com dúvidas, como sempre. Tento que seja sempre um instante a seguir ao outro, sem as pressões do costume. Entristeço-me por, agora, não estar capaz de aproveitar esta fase de modo eufórico como deveria ser, como eu acho que mereço sentir e como acho que ele merece que eu o faça sentir.
gripe
A narina esquerda entupida; a dor de cabeça que chega até aos olhos e que me pressiona a testa; os olhos semi-cerrados, quentes, doentios e brilhantes da febre; a moleza do corpo que me pôs a dormir ferrada duas vezes durante a tarde e os ouvidos que estalam e ficam tapados de vez em quando; a tosse e a comichão na garganta. A gripe que não me deixa fazer o que tenho de fazer. Começo, sem querer, a acumular trabalho. Outra vez. O trabalho que não me apetece, que não consigo, que não me deixa e que me faz pôr tudo em causa.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
dentro da barriga [XV]
domingo, 16 de novembro de 2008
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
coisas
surpresa
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
domingo, 9 de novembro de 2008
hoje
Abro os olhos devagar. Fecho-os de seguida, porque ainda estou sonolenta. Volto a abri-los e de repente a realidade actual invade-me de rompante. Tenho isto e isto para fazer. Para o que me incomoda falta um dia e para o que anseio faltam três. Perante isto o meu coração começa a bater mais depressa. Volto-me para o outro lado, para onde tem a janela, e tento deixar-me levar pelo sono outra vez e por isso fecho os olhos de novo. Mas o “tum tum” do coração é ensurdecedor e além disso não posso voltar a adormecer porque já são quase onze da manhã e tenho coisas para fazer. Estico a mão para fora da cama para pegar no telemóvel e voltar a confirmar as horas. Brrr está frio! Encolho-me ainda mais, enroscada nos cobertores. Envio a mensagem de bom dia que já se tornou num hábito bom e espero pela resposta que poucos segundos depois chega até mim. Volto a lembrar-me que tenho de pôr os pés fora da cama porque tenho coisas para fazer. Mas que coisas? As aulas estão passadas a limpo; os textos estão lidos; os capítulos dos livros correspondentes às aulas dadas estão lidos e sublinhados; a tradução está feita e não posso adiantar um trabalho porque antes preciso de enviar um e-mail ao professor. Por isso, que coisas tenho de fazer? Este estado de nervos e de ansiedade constante não me deixa sossegar, tenho sempre a cabeça a mil, assim como o resto do corpo. Se eu já sou agitada por natureza, então agora mal consigo parar sossegada um minuto. E o que me vai dando alento são as palavras que vou recebendo ao longo do dia, que me transportam para as últimas tardes passadas em conjunto, no meio de filmes, de risos, de abraços, de mãos entrelaçadas e de olhares. Tenho de me habituar. Aliás, quero habituar-me.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
será?
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Ultimamente os dias das minhas semanas são contados de maneira diferente do habitual. Já não passo a semana a suspirar pelo fim-de-semana apenas. Agora passo o fim-de-semana a ansiar pela terça-feira e da terça-feira até à sexta-feira parece que demora uma eternidade. A vantagem é que assim faz com que pareça que a semana passa mais depressa. E ainda não passaram dois meses desde que nos conhecemos. Por este andar vou acumular anos depressa depressa. Isto, claro, se eu deixar por artes mágicas que o muro à volta da caixinha dos sentimentos se quebre.
o tempo
A D. pôs-me a ouvir músicas antigas, as músicas do nosso tempo. Músicas que já nem me lembrava que existiam e que já não ouvia há anos, mas que reconheci logo nos primeiros segundos. Ainda as consigo cantar quase todas enquanto fico nostálgica, pois já se passaram mais de uma dezena de anos e isso assusta-me. Os anos, agora mais do que os fins-de-semana, evaporam-se, passam por mim num voo desenfreado e a velocidade assusta-me, como sempre me assustou. Agora ainda mais.