Vou-me recordar sempre do dia 1 de Julho, quando soube que a minha irmã estava grávida do meu segundo sobrinho. Comprei o teste e obriguei-a a fazer cá em casa. Foi uma alegria imensa que daqui a poucas semanas se tornará ainda maior.
Os dias que antecederam a minha ida para a ilha foram um sufoco, um misto de expectativa, de receio, de coragem, uma decisão tomada quase por impulso, até minutos antes de entrar para o avião, de que não me arrependo. Chegada lá, foram quase duas semanas a recordar locais de infância, a ser acarinhada por quem já não me via há anos, a conhecer pessoas novas, sem horários, sem pressas, sem controlos, sem pensar em nada a não ser para onde ir no dia seguinte ou nessa mesma noite. Totalmente por minha conta, consegui encontrar os pedacinhos cá dentro que se tinham desmontado e voltei a juntá-los, com a ajuda das tardes mergulhada no oceano transparente e morno, da areia aveludada na pele, do som das ondas nas rochas, dos pássaros nocturnos e, surpreendentemente, com a ajuda das (apenas) três horas de sono por noite. Dei provas a mim mesma, provas de que precisava e que me fizeram recuperar o fôlego que há tanto precisava. Foram libertas saudades de quatro anos.
A meio do verão conheci um rapaz, à porta da casa do lado. Durou não mais de três minutos e lembro-me que fiquei tão embaraçada que nem lhe consegui olhar para a cara. Quanto à minha, sei que ferveu e que só desejava que não se notassem as rosetas em cada bochecha. Daqueles três minutos o que me ficou gravado na memória foi um rapaz alourado, altíssimo, que teve de se baixar para me cumprimentar e que estava com uma camisola preta sem mangas. Esses três minutos fizeram-me vir para casa rir da situação que me deixou envergonhada e surpreendida, mas mal sabia eu que poucos meses depois esse mesmo rapaz altíssimo e alourado ia entrar na minha vida com toda a persistência e paciência suficientes que alguém precisa de ter para lidar comigo. Continuo sem saber para onde vamos, quanto tempo vai durar nem como vai ser depois. Claro que tenho medo, e tanto. Mas neste momento tento convencer-me de que nada disso importa (o que para mim, que tenho planos e penso sempre inevitavelmente a longo prazo, é uma tortura). Estamos juntos. Depois de tardes de final de verão resfriadas na rua, depois de beijos roubados, de amuos, de barreiras que pareciam inquebráveis e da minha teimosia. Estamos juntos. Agora de mãos entrelaçadas na rua, de beijos partilhados, de lutas que começam no sofá e acabam no chão do corredor, de lambidelas na cara que arrepiam as pernas, de recordações de um concerto partilhado, de músicas e de expressões que já fazem parte, de dias passados com atenção ao telemóvel, de escapadelas, do olhar pousado no outro olhar em que, eu juro que acredito, que o mundo lá fora pára. Sinto a paixão e a montanha-russa na barriga que eu queria sentir há muito tempo. A borboleta fez as coisas bem feitas e na altura certa e eu sei que ela esteve presente no início, a ver o que se passava naquelas tardes em que respirávamos o ar puro dentro da cidade. Claro que continuo sem saber o que se vai passar depois, mas o que tive nestes três meses foi só meu e o melhor de tudo é que eu tenho comigo o menino com os olhos mais pestanudos que eu já vi e que me fazem cócegas na cara e com o sorriso mais bonito e provocador do mundo.