Era hora de dormir, mas já desconfiava que hoje isso ia demorar a acontecer. Antes de me render ao sono ainda tinha muitas voltas a dar pela cama, porque me conheço e tinha a certeza que os pensamentos não iam ser simpáticos. Não hoje. Deito-me de barriga para baixo na esperança de adormecer mais depressa, porque normalmente é o que sucede, mas o coração está mais acelerado do que o costume e atrapalha-me. Consigo escutar cada batimento amplificado, parece que, de repente, o meu colchão deixou de ter a função de me embalar, tornando-se frio e invasivo como um estetoscópio. Era capaz de me concentrar na contagem de cada batida só para não me perder pelas estradas sinuosas da minha mente que hoje teimavam em ser cinzentas. Sinto-me pouco cómoda. Mudo de posição e sou, de novo, assaltada por pensamentos sombrios que teimam em permanecer e a dificultar-me o repouso que tanto anseio. Rendo-me e deixo-os fluir. Não raciocino as imagens que me aparecem em formato fullscreen, que quase me engolem e intimidam, limito-me a aceitá-las. Engulo em seco e acabo por ser vencida pelo cansaço, tal como as imagens.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Natal
Apetece-me a tarde passada na cozinha com a minha mãe a fazer os doces característicos da época e cá de casa. Apetece-me muito os risos e as conversas com a familia durante o serão. Apetece-me sair à rua no dia 24, parecer-me que tudo está diferente e ouvir "Feliz Natal" em todo o lado. Apetece-me roubar sonhos à socapa e ficar com os dedos sujos de açúcar.
Quanto a presentes, não pedi absolutamente nada. Basta-me sentir, ver e presenciar tudo isto.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
cheiros que me despertam
o cheiro do café
o cheiro do chocolate quente
o cheiro de um bolo no forno
o cheiro do chá de ananás
o cheiro a bebé
o cheiro da loja das flores
o cheiro a eucalipto
o cheiro da gasolina
o cheiro da relva acabada de cortar
o cheiro da terra depois de chover
o cheiro dos papéis antigos, guardados
o cheiro a maresia
o cheiro do sabonete de amêndoas
o cheiro do shampoo dele
os cheiros indecifráveis que me lembram a ilha
o cheiro do chocolate quente
o cheiro de um bolo no forno
o cheiro do chá de ananás
o cheiro a bebé
o cheiro da loja das flores
o cheiro a eucalipto
o cheiro da gasolina
o cheiro da relva acabada de cortar
o cheiro da terra depois de chover
o cheiro dos papéis antigos, guardados
o cheiro a maresia
o cheiro do sabonete de amêndoas
o cheiro do shampoo dele
os cheiros indecifráveis que me lembram a ilha
terça-feira, 27 de novembro de 2007
o que me aquece a alma
O abraço do meu sobrinho sempre que me vê. De todas as vezes que estamos juntos, parece que não está comigo há meses.
Com este frio, nada apetece mais do que o aroma do chá quente de ananás com chá verde
(patrocinado pela P.)
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Dona G.
Pois é, a Dona G. é uma simpática e ingénua senhora idosa, que hoje nos encontrou na rua e nos pediu o favor de irmos a casa dela tentar abrir a porta da salinha que não abria por nada. A porta da salinha tinha três fechaduras, onde se conseguia perceber nitidamente uma certa evolução do mundo das fechaduras. Cada uma de nós estava a tentar, com a força que o riso permitia, girar as chaves de modo a que a porta da salinha se abrisse, mas durante meia hora nada aconteceu (sim, estivemos cerca de meia hora em casa duma senhora desconhecida a tentar abrir uma porta com três fechaduras). Como nada se passava, a não ser lágrimas a escorrerem-nos pela cara abaixo devido ao riso, a P. achou por bem chamar um homem que ia a passar na rua, sempre podia ter mais do factor f – de força - do que nós, dizia a Dona G. (embora o factor j – de jeito – tivesse mais a ver com o assunto). O senhor não tinha nem o factor f, nem o factor j, mas tinha boa vontade.
Após uns momentos de descontracção, em que a Dona G. nos mostrou o resto da casa (que me deixou saudosa por me fazer lembrar a casinha da minha avó), lá voltámos ao que nos levou lá e não é que… abriu! A Dona G. quase que pulava de alivio e alegria e até nos mostrou a fotografia do netinho que é “arquitético”. À despedida ainda nos ofereceu café, bolachinhas e bolos mas, infelizmente, eu e P. tínhamos um autocarro para apanhar.
Após uns momentos de descontracção, em que a Dona G. nos mostrou o resto da casa (que me deixou saudosa por me fazer lembrar a casinha da minha avó), lá voltámos ao que nos levou lá e não é que… abriu! A Dona G. quase que pulava de alivio e alegria e até nos mostrou a fotografia do netinho que é “arquitético”. À despedida ainda nos ofereceu café, bolachinhas e bolos mas, infelizmente, eu e P. tínhamos um autocarro para apanhar.
sábado, 24 de novembro de 2007
As saudades...
...apertam o coração, fazem pressão no peito e têm o poder de prender a respiração. Tudo isto porque, inevitavelmente, nos esboça um sorriso tímido nos lábios, ou por vezes uma gargalhada sonora, onde se resume toda a força das lembranças. Vemos por dentro, como a projecção de um filme a cores numa tela, momentos encantados que nos tornaram o que somos neste agora. É uma “dor” benigna que cura, que desperta, que provoca que pede por mais. E eu quero tanto esse mais...
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
recordações de areia
Tenho uma colecção de frasquinhos de vidro, pequeninos, com areia lá dentro. Não sei quantos tenho, mas posso dizer que não são tantos quanto gostaria de ter na prateleira. Quando visito um lugar, faço sempre questão de roubar um bocadinho de areia como recordação. Podia ser uma pedra, conchas, folhas de árvores para elaborar um herbário como as rapariguinhas faziam antigamente, mas não. É areia-não-sei-porquê.
Se calhar, porque acho graça ao imaginar que estes grãozinhos já fizeram parte dum castelo construído por uma criança que sorriu, orgulhosa, ao mostrá-lo aos pais. Ou porque já estiveram no contexto de um primeiro beijo. Daqueles beijos que ficam na memória de qualquer menina, apaixonada pela primeira vez, de uma forma tão inesquecível que são capazes de recordar admiravelmente do instante em que a respiração passou de serena a ofegante, dos olhos no chão porque o embaraço não deixa enfrentar os olhos em frente, do momento em que lhe afastaram a madeixa de cabelo da cara por estar a atrapalhar o desenrolar do passo seguinte…
Gosto de ver os frasquinhos ao lado uns dos outros, abri-los, e verter uma pequena porção de areia na minha mão e, além de imaginar histórias agradáveis, descobrir como os grãos de areia são mais finos ou mais escuros que os outros, do outro frasco ao lado. Eu sei que é batota, mas alguns frasquinhos têm areia que outras pessoas roubaram para mim. Mas, no fundo, não é assim tão mau porque eu tenho quase a certeza que, um dia, irei a esses sítios de areia roubada por outros e vou devolvê-la para, depois, poder ser eu a escolher o bocadinho de areia que quero que fique rotulada na prateleira. É que, nessa altura, terei certamente histórias reais para recordar. Até lá, mais vale prevenir e deixar tudo como está.
Se calhar, porque acho graça ao imaginar que estes grãozinhos já fizeram parte dum castelo construído por uma criança que sorriu, orgulhosa, ao mostrá-lo aos pais. Ou porque já estiveram no contexto de um primeiro beijo. Daqueles beijos que ficam na memória de qualquer menina, apaixonada pela primeira vez, de uma forma tão inesquecível que são capazes de recordar admiravelmente do instante em que a respiração passou de serena a ofegante, dos olhos no chão porque o embaraço não deixa enfrentar os olhos em frente, do momento em que lhe afastaram a madeixa de cabelo da cara por estar a atrapalhar o desenrolar do passo seguinte…
Gosto de ver os frasquinhos ao lado uns dos outros, abri-los, e verter uma pequena porção de areia na minha mão e, além de imaginar histórias agradáveis, descobrir como os grãos de areia são mais finos ou mais escuros que os outros, do outro frasco ao lado. Eu sei que é batota, mas alguns frasquinhos têm areia que outras pessoas roubaram para mim. Mas, no fundo, não é assim tão mau porque eu tenho quase a certeza que, um dia, irei a esses sítios de areia roubada por outros e vou devolvê-la para, depois, poder ser eu a escolher o bocadinho de areia que quero que fique rotulada na prateleira. É que, nessa altura, terei certamente histórias reais para recordar. Até lá, mais vale prevenir e deixar tudo como está.
Hoje disseram-me:
"uma coisa que nunca fiz e adorava fazer: dar beijinhos à chuva e trocar gomas por beijinhos"
Marta Porto
Marta Porto
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
monotonia
Não gosto da monotonia mas vejo-me embrulhada nela mais vezes do que a minha maneira de ser consente, ou deveria consentir. E é quando começo a chegar ao limite que me apercebo que começo a idealizar, mais frequentemente, o que poderia fazer para quebrar esta sensaboria quase constante. E há tanta coisa que podia fazer… E tanta coisa que não me permite fazer…
7 coisas que me incomodam:
Areia dentro dos sapatos
Etiquetas das camisolas
Comichão no céu-da-boca
Tosse quando quero dormir
Os meus pés com calor
Acordar a meio da noite porque tenho fome
Não adormecer porque tenho uma música na cabeça
Etiquetas das camisolas
Comichão no céu-da-boca
Tosse quando quero dormir
Os meus pés com calor
Acordar a meio da noite porque tenho fome
Não adormecer porque tenho uma música na cabeça
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Water
What is your poison Sir
I'll have a cold beer, thank you
And your friend, just a glass of pure water
Well we have a range of waters
Starting with fluidated water, mineral water
There is stale piss with a touch of crap
Just joking Sir, that is the treated water
How much for the beer? five dollars
And eighty five dollars for the water
What a load of crap
The crap will be extra Sir
(allan james saywell)
I'll have a cold beer, thank you
And your friend, just a glass of pure water
Well we have a range of waters
Starting with fluidated water, mineral water
There is stale piss with a touch of crap
Just joking Sir, that is the treated water
How much for the beer? five dollars
And eighty five dollars for the water
What a load of crap
The crap will be extra Sir
(allan james saywell)
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Hoje foi um dia Sr. Outono.
Enquanto andava pelas ruas perto de casa, que têm plátanos dum lado e doutro, pisava as folhas castanhas e amareladas de formas perfeitas e algumas com as pontas ainda verdes. Mas hoje elas não estalavam ao pisar, porque estavam humedecidas pela chuva. Faziam escorregar. De vez em quando, o vento fazia elevar no ar, num rodopio, as folhas que tinham sido pouco atingidas pela chuva e eram essas que passavam mesmo perto da minha cara, o que fez com que uma ou outra vez tivesse de me encolher para que não me tocassem. Entretanto eu sorria, enquanto encostava o casaco, comprido e preto, de encontro ao meu pescoço para me proteger do ar frio que nem o cachecol conseguia disfarçar.
domingo, 18 de novembro de 2007
The Unbearable Lightness of Being - Milan Kundera
Olhando sobre o pátio para as paredes sujas, Tomas percebeu que não tinha a menor ideia se aquilo era histeria ou amor.
E afligiu-se por, numa situação na qual um homem de verdade saberia de imediato como agir, estar a vacilar e a privar da sua memória os momentos mais belos que já vivera (ajoelhado à beira da cama, pensando que não sobreviveria se ela morresse).
Irritou-se consigo próprio até perceber que, na verdade, era bastante natural que não soubesse o que queria.
Jamais nos é possível saber o que queremos, pois, vivendo uma única vida, não podemos compará-la às nossas vidas anteriores, ou aperfeiçoá-la em vidas futuras.
Era melhor ficar com Teresa ou sozinho?
Não há como testar qual a melhor decisão, porque não há base para comparação. Vivemos as coisas conforme elas se apresentam, desavisados, como um actor que entra num palco sem ter ensaiado. E de que vale a vida, se o primeiro ensaio para ela é ela própria? É por isso que a vida é sempre como um esboço. Não, "esboço" não é bem a palavra, porque um esboço constitui-se das linhas gerais de alguma coisa, a base de uma pintura, ao passo que esse esboço que é nossa vida é um esboço de coisa alguma, linhas gerais de pintura nenhuma.
Einmal ist keinmal, Tomas diz a si mesmo. O que só acontece uma vez, afirma o provérbio alemão, melhor seria que não tivesse acontecido. Se temos uma única vida para viver, melhor seria não ter vivido.
E afligiu-se por, numa situação na qual um homem de verdade saberia de imediato como agir, estar a vacilar e a privar da sua memória os momentos mais belos que já vivera (ajoelhado à beira da cama, pensando que não sobreviveria se ela morresse).
Irritou-se consigo próprio até perceber que, na verdade, era bastante natural que não soubesse o que queria.
Jamais nos é possível saber o que queremos, pois, vivendo uma única vida, não podemos compará-la às nossas vidas anteriores, ou aperfeiçoá-la em vidas futuras.
Era melhor ficar com Teresa ou sozinho?
Não há como testar qual a melhor decisão, porque não há base para comparação. Vivemos as coisas conforme elas se apresentam, desavisados, como um actor que entra num palco sem ter ensaiado. E de que vale a vida, se o primeiro ensaio para ela é ela própria? É por isso que a vida é sempre como um esboço. Não, "esboço" não é bem a palavra, porque um esboço constitui-se das linhas gerais de alguma coisa, a base de uma pintura, ao passo que esse esboço que é nossa vida é um esboço de coisa alguma, linhas gerais de pintura nenhuma.
Einmal ist keinmal, Tomas diz a si mesmo. O que só acontece uma vez, afirma o provérbio alemão, melhor seria que não tivesse acontecido. Se temos uma única vida para viver, melhor seria não ter vivido.
sábado, 17 de novembro de 2007
lei de Murphy
Não há vez nenhuma que eu abra as caixas de comprimidos que não me calhe no lado onde tem a bula! É certinho.
Subscrever:
Mensagens (Atom)