que ando a ser influenciada pelo "baby boom" que surgiu à minha volta. Não que nunca tenha pensado nisso, au contraire. Quando era pequenina, de quando em vez, enchia as camisolas com roupas até parecer que tinha uma barriguinha aceitável e virava-me de lado para o espelho. E sorria, sonhando. Muitas mulheres idealizam desde muito novas o dia de casamento e, quando crescem, já têm quase todo o plano de como tudo vai ser, o vestido, as flores e as cores a usar, o sitio perfeito para a lua-de-mel e tudo o resto. Pelo contrário, eu nunca me prendi com isso. Enquanto muitas desfilavam em frente aos espelhos com cortinas ou lençóis na cabeça a fingir de véu, eu usava os tecidos para rechear as camisolas.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
coisas
Nem o cliché "a primeira panqueca* sai sempre mal" se aplica à minha pessoa.
*ou crepe, neste caso (com bacon e queijo)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
cheguei à conclusão
Museu Nacional de Arte Antiga
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
coisas
Senhora da caixa – “são 16,48€”
Senhora de aparência pouco abastada, de bengala e de aproximadamente 65 anos – (conta o dinheiro, dá o que tem) “Olhe não tenho mais, esqueci-me do resto em casa!”
Senhora da caixa – “Então tire qualquer coisa que ache que não lhe faz falta”
Senhora de aparência pouco abastada, de bengala e de aproximadamente 65 anos – (sem perder tempo devolve o pacote de leite)
Fez-me confusão como é que se abdica dum pacote de leite (note-se que é um alimento nutritivo) para ficar com, por exemplo, uma lata de fanta ou com uma vela de cheiro, que eram algumas das coisas que constavam no carrinho de compras da senhora…
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sábado, 23 de fevereiro de 2008
já me disseram
Uma vez, há muitos anos, ouvi uma mulher dizer para outra: "ele tem medo até da própria voz!". Até àquela altura nunca me tinha apercebido que é possível assustarmo-nos com a nossa própria voz, daí ter ficado com esta frase embutida na memória. Às vezes evoco-a e penso que sinto o mesmo que "ele". Não sempre, mas às vezes. Não é tanto pelo som da voz que quebra o silêncio do sossego em que estamos, passa mais por tornar audíveis os nossos pensamentos, por os ouvirmos com entoação, com um timbre mais grave ou mais agudo, como se fosse outra pessoa a reproduzir, com conhecimento, os nossos pensamentos. Assusta sim. Ao darmos voz aos pensamentos, estes passam a ter forma, parece que nos tornamos mais vulneráveis, com possibilidade de partilha mesmo sem intenção. Um risco que se corre. Assusta sim e também pode causar vergonha.
coisas
Algumas das muitas músicas que estão de braço dado com fases da minha vida. São as minhas eternas, as que me fazem parar e sorrir. Pirosas, muito antigas, lamechas, clichés mas, mais do que isso, estiveram presentes “lá”. São absolutamente um pouco minhas.
Shattered – The Cranberries
Zombie – The Cranberries
Tell me Why – Backstreet Boys
I Can’t Help Myself – The Kelly Family
Vulnerable – Roxette
How Do You Do - Roxette
High – Lighthouse Family
Lovefool – The Cardigans
Back for Good – Take That
Sozinho – Caetano Veloso
What a Wonderful World - Louis Armstrong
74, 75 – Connels
Streets of
Mmm Mmm Mmm – Crash Test Dummies
Aqui ao Luar – Resistência
Criaturas da Noite – Entre Aspas
Canonball – Damien Rice
Tears in Heaven – Eric Clapton
Please Be With Me – Eric Clapton
Somewhere Over the Rainbow/What a Wonderful World –
Tears and Rain – James Blunt
High – James Blunt
Heartbeats – José Gonzalez
(ficaram outras tantas por dizer)
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
"A amizade pode ter, como origem, um instinto de sobrevivência da espécie, e uma necessidade de proteger e de ser protegido por outros seres da espécie. Faz parte da amizade não exacerbar os defeitos do outro e dividir os bons e maus momentos. Os melhores amigos muitas vezes se conhecem mais que os próprios familiares e funcionam quase como um "confessionário". Para atingir esse grau de amizade, muita confiança e fidelidade têm de ser depositadas. Os amigos sentem-se atraídos pelos outros pelo que eles são e não pelo que eles possuem. As verdadeiras amizades tudo suportam, tudo esperam, tudo crêem e tudo perdoam pelo simples facto de existir entre eles o verdadeiro amor."
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
auf wiedersehen!
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
dia dos namorados
Detesto tudo, começando pelos casais melosos no meio da rua, que atrapalham o caminho a quem tem mais que fazer do que andar em marcha lenta a assistir a beijos hollywoodescos; detesto as almofadinhas encarnadas com, ou sem, rendinhas a dizer “amo-te” e “és o amor da minha vida”; chocolates em forma de coração e embrulhados em papel encarnado; as montras repletas de peluchinhos e peluches de tamanho XXL com palavrinhas amorosas na barriga (a montra da Funny dá náuseas). No dia seguinte como é? Ah, claro, discussões e tal. Pois, está certo.
É um dia piroso, ponto final.
Atonement - Joe Wright
a história pode continuar. A que eu tinha planeada para a caminhada daquela noite. Posso voltar a ser o homem que uma vez atravessou o parque Surrey ao anoitecer, no meu melhor fato, pavoneando-me com a promessa de vida. O homem que, com a clareza da paixão, fez amor contigo na biblioteca. A história pode continuar. Eu voltarei, encontrar-te-ei, amar-te-ei, casarei contigo e viverei sem vergonha.”
Ele nunca voltou.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Baía São Lourenço, Açores
De manhã acordava bem cedo, não havia motivos para desperdiçar o dia a dormir mesmo que a noite tivesse sido longa. O bikini era o traje de todos os dias, quer estivesse sol ou não. Muitas vezes andava descalça, gostava de pisar o chão da rua quente e de sentir nos pés a textura, igualmente quente, do muro que percorria toda a baía. Saía-se de casa apenas com a toalha na mão, nada mais. Se houvesse fome bastava subir os degraus de cimento da praia e ir à esplanada comer um gelado, ou partilhar a famosa dose de batatas fritas com ketchup, que eram comidas uma a uma com um palito. Assim, as manhãs e as tardes eram passadas na praia, na areia escura, fina e macia, com brincadeiras no mar, saltos das rochas e passeios a nado duma praia à outra. A água é transparente e viam-se cardumes de peixes mínimos e cinzentos a fugir dos meus pés. Lembro-me de um dia a água estar tão quente que nem refrescava do calor que queimava a pele, cá fora.
As noites de pleno verão eram passadas na esplanada, com jogos de cartas longos e conversas disparatadas. Uma vez por outra havia desafios na guitarra. Noites de riso, de olhares e de cumplicidade. Éramos sempre muitos, as idades variavam mas ali as diferenças pouco se notavam. As melhores noites eram as passadas no balcão da casa da I., nas cadeiras de madeira branca e com lona às riscas brancas e cor-de-laranja. Conversas e jogos de todo o tipo. Lá, aprendi a distinguir a cassiopeia e a ursa maior das outras estrelas que, naquele céu negro parecem existir em maior quantidade. Se o balcão da I. falasse, tinha muito que contar.
Noites no cais antigo de pedra, com a lua a reflectir no mar ondulante, que alguém comparou aos versos da música dos Xutos “Aqui ao luar, ao pé de ti, ao pé do mar, só o sonho fica só ele pode ficar”.
Com a I. entrei em casas abandonadas, donde tirei pratos antigos, castiçais e colheres que, de tão antigas, se tornaram quebradiças. Com a I. trepei à varanda duma casa fechada donde não conseguia sair com medo das alturas. Com a I., apanhei boleia de carrinhas de caixa aberta dum lado ao outro da baía, cá fora, na dita caixa, e em pé. Com a I. e com o grupo apagámos as luzes da baia, de noite, dos candeeiros de rua e das casas. E não foi uma vez, nem duas.
No fim do verão os dias tornavam-se mais escuros, o mar mais revolto e já não dava para passar o dia na praia porque a areia escasseava. Gostava quando chovia, os pingos da chuva eram gordos e o mar ficava cinzento da cor das nuvens. As tardes de praia eram substituídas por tardes de jogos de sueca, de copas, de espelho, de peixinho, de burro em pé e sentado, de truques inventados, cozinhar panquecas, de passear pelas imensas vinhas que estão pela encosta da baía e deliciarmo-nos com a paisagem única. E era sobretudo nesta altura, em que os imigrantes deixavam a ilha, que a baía era ainda mais nossa.
Na altura de dizer adeus, os olhos enchiam-se de lágrimas, davam-se abraços, faziam-se promessas de escrever cartas (que eram escrupulosamente cumpridas) e as lembranças eram trazidas nas malas, nos bolsos, na pele e no coração.
Chamam-me a Joaninha de São Lourenço. Por algum motivo é. A verdade é que fui uma privilegiada.
Não preciso que me seduzas
Não preciso que me seduzas...
Guarda o teu charme para as flores,
O teu perfume para o vento;
Prefiro nadar com as medusas
A dançar um tango com o tempo.
Jogos fáceis não me saturam
E muito menos me desperta
A dança dum monótono bolero;
Lábios furtivos não perduram
Mais do que um olhar sincero.
Qual relva acabada de cortar,
Eterna luta pelo verbo amar;
Naquele engano primaveril,
O tempo irei querer quebrar,
Encher-te de beijos mil.
E quando perder o juízo,
Julgar-me-á a incansável multidão,
Mas com o vento lhe direi em sintonia:
Prefiro a agreste melodia do teu riso
A qualquer dócil ironia.
Não preciso, pois, que me seduzas...
Guarda o teu charme para as flores,
O teu perfume para o vento;
Prefiro nadar com as medusas
A dançar um tango com o tempo.
D.B.Radou - http://key-west.blogspot.com/
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Baraka
Vi este documentário de 1992 (dirigido por Ron Fricke) pela primeira vez no meu primeiro ano de curso, projectado no auditório de madeira da faculdade. No início ouviam-se risos baixinhos para o lado, mas depressa os olhos ficaram esbugalhados devido às cores, sons e movimentos que foram projectados ao longo de hora e meia.
Acredito que não encante todas as pessoas como me encantou a mim, uma vez que não contém diálogos, narrações nem uma sequência de cenas coesa, apenas cantos, rezas, sons da natureza, entre outros.
Baraka significa “sopro de vida”, por isso, tal conceito não podia ter sido melhor escolhido para intitular este documentário, pois trata-se de uma apresentação de contrastes e paralelos que mostram como há uma interligação entre os imensos povos, apesar das desigualdades de religião, costumes e dialectos.
As imagens, que nos enchem os olhos, e os sons tanto inquietam como relaxam, provocam lágrimas e sorrisos, fazem-nos reflectir. Um documentário perfeito.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
lembranças
sábado, 9 de fevereiro de 2008
ser tia
Implica (já agora) jogar às damas com o sobrinho no messenger vezes sem conta só para o fazer feliz; fazer caretas no espelho enquanto corta o cabelo, no barbeiro, só para o sobrinho se rir e não ficar triste por o cabelo estar a ficar mais curto do que devia; segurar na mochila e no sumo do sobrinho enquanto ele resolve jogar à bola com os amigos à última da hora; abdicar do último bolo para o sobrinho comer; fazer os fatos do sobrinho para as festinhas do colégio; comparecer nas festinhas todas do colégio e fotografar o sobrinho mesmo que tenha de passar à frente das pessoas; emocionar-me nas festinhas do colégio do sobrinho.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
O que há em mim é sobretudo cansaço - Álvaro de Campos
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Gilles Apap
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
my passion
Eu
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de néve ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chama triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
o meu soneto preferido desde o momento em que o li, pela primeira vez, há anos.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
e foi assim
Gosto.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
procura-se
Caracteristicas: cobertura de chocolate, natas no interior e núcleo de chocolate tufado. Papel envolvente de cores azul e prateado.
Recompensa: aproximadamente 80$
de um fôlego só
vontade de sentir o sabor dos cheiros e as cores dos sons que me perseguem desde que sorri para o mundo sair de casa pela janela e flutuar até tocar nas pedras do chão chegar à beirinha de um precipício desequilibrar-me e experimentar o medo da queda sem cair seguir as formigas e conseguir finalmente perceber o que se passa dentro do formigueiro pintar a cara com pós brilhantes de cores fantásticas e vestir-me de cetim gritar histericamente para a almofada que me abafa até sentir veias a latejar cortar o cabelo pintá-lo de branco lamber pedras de gelo para matar a sede mergulhar numa piscina quente com sapatos calçados pisar algodão de cores pálidas descalça para sentir a maciez da pele dum bebé tocar na chama da vela púrpura que cheira a alfazema que está no mel que não queima os dedos entornar a cera derretida para a palma da minha mão arriscar um beijo no carro que toca música piscar o olho a uma criança que roubou rebuçados de frutos silvestres encher os bolsos de tecido de cambraia com bons momentos provocar gargalhadas com um salto subir para o barco à vela de patins descer uma rua inclinada onde no fim há abraços abertos que me esperam pintar os carros com cornucópias esbatidas pelo sal do mar verter todos os perfumes do mundo para uma banheira lamber dos dedos o chocolate derretido misturado com leite condensado receber cartas lacradas de encarnado sangue estalar os dedos trabalhar no moinho de vento mais antigo arrepiar-me com o toque quente que nunca senti pintar telas maiores que eu com pincéis de vernizes das unhas construir amizades com índios cheios de missangas e penas... ... ...
sábado, 2 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
cenas-cliché
Quando digo que gostava que a minha vida tivesse “semelhanças-idênticas” com cenas de filme, refiro-me mesmo àquelas cenas típicas que aparecem em quase todas as comédias românticas e que já se tornaram um cliché. Cliché nos filmes, porque na vida real não há cliché nenhum, pelo menos na minha.
Um dia ainda me hei-de cruzar com um rapaz lindíssimo numa esquina, derrubar-lhe os livros que tem empilhados em ambas as mãos, fazer uma cara atrapalhada, pedir desculpa e logo a seguir cair-me como por magia um cartão do bolso, sem eu dar por isso, com o meu nome e número de telefone, através do qual ele me vai contactar.
Depois desde episódio, uns tempos mais tarde, vamo-nos beijar à chuva, que vai começar de repente e torrencialmente, embora o céu parecesse límpido.
Claro que vão existir discussões e uma delas vai ser em pleno restaurante e vai acabar comigo a levantar-me e a entornar um copo cheio de champagne (ou outra qualquer bebida) no colo dele, ou então directamente para a sua carinha linda de morrer. Claro que eu, orgulhosa e impulsiva como sou, vou resolver partir para longe e é aqui que entra a cena do aeroporto. Ele vai-me impedir de entrar num avião para o outro lado do mundo e a reconciliação vai acabar com uma declaração incluindo as frases “és a mulher da minha vida”, “amo-te” e com um beijo longo e apaixonado enquanto as pessoas da sala de embarque batem palmas.
E pronto, foi só um exemplo.