sexta-feira, 29 de agosto de 2008

coisas

"Estás só há uma semana em Santa Maria e já estás a falar com pronúncia mariense!" diz-me o F. ao telefone da ilha ao lado.

Gosto.Gosto.Gosto.
Neste palmo e meio de terra também há lojas dos chineses, são três e chamam-se Ocean Blue.

azores VIII

Ontem começou com uma noite muito bem dormida. Um dia de praia esplêndido, tal como eu adoro: mar calmissimo, areal quase vazio. Chegada a casa, ao fim da tarde, fui para a piscina exercitar o corpo que já se começa a ressentir da falta de exercicio. Café com o V. depois de jantar e encontrar o R. no clube. Convite para ir fazer tiro. Aceito com o pedido de me deixarem disparar pela primeira vez. Explicam-me como se faz. É pesada. Sou a primeira a dar o tiro. Ralis nas canadas. saio pela janela do carro e sento-me em andamento para apreciar o céu limpo de nuvens e repleto de estrelas. Somos quatro no carro e mais quatro noutro carro. Eu a única rapariga. Rir e rir. Disparo mais uma vez. Rir mais com as piadas deles e com os termos próprios. Perguntam-me se quero dar o último tiro e dou. Aponto para o sinal de trânsito e acerto direitinho. Fica lá um buraco, um registo para recordar mais tarde. Já são quatro da manhã e começa a haver sono. Depositar as pessoas em casa e eu sou a última. Desvio inesperado de caminho. O R. deixa-me trazer o carro para casa, são quase seis da manhã. Conduzo feliz por o estar a fazer na ilha pela primeira vez. Tentar adormecer com o sorriso nos lábios. Dorme-se pouco.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

azores



agora

apetecia-me ser uma gigante e abraçar tudo isto com os meus braços.
Quando comecei a ver a ilha cada vez mais próxima e quando pus os pés em solo açoreano, nem queria acreditar que estava novamente aqui. Ainda agora me parece tudo pouco palpável. Começo já a ver os dias a escaparem-se-me por entre os dedos e começo a ficar preocupada porque tenho uma lista mental de sitios a revisitar e tenho medo que o tempo não chegue.

aqui

tanto está sol como logo a seguir fica cinzento e chove e depois volta a fazer sol.
ouvem-se os galos a cantar de manhãzinha, esteja-se onde se estiver.
não há engarrafamentos e se os carros tiverem de parar na estrada é porque há vaquinhas a caminhar.
não há semáforos.
diz-se "éme", "bei", "estás cegando", "termina-te", "sóóó"... e eu apanho logo estes termos todos que me dão um prazer enorme de ouvir.
o humor é diferente do de lisboa, é mais puro.
chamam-se "falsas" aos sótãos.
o ar é abafado mesmo que chova e que esteja cinzento.
vê-se o mar por todo o lado.
usam muito o gerúndio.

azores VII

Festa de crianças na piscina. Mais pessoas conhecidas que me chamam "Joaninha", porque me conhecem quase desde sempre. Ao fim do dia descobri que tinha internet sem fios nas novas instalações, por isso aproveitei para actualizar o meu cantinho e para ficar em casa a descansar das noites de farra.

azores VI

Praia de boleia com o R. Fotografar. Dizerem-me para ir à câmara municipal apresentar as minhas fotografias. Mudar de instalações à pressa. Odisseia para jantar com o R. O primeiro restaurante estava fechado de folga, o segundo não servia refeições (só se tivessemos chegado cinco minutos mais cedo), o terceiro também não (só se tivessemos chegado dez minutos mais cedo). Optar por ir para o bar da praia que serve hamburguers. Comer até rebentar. Música ao vivo no bar rente à praia dos Anjos. Ouvir covers por uma banda micaelense. Mais pessoas conhecidas que me falam e que ainda se lembram do meu nome. Olhares que derivam de boatos.




azores V

Passeio rápido a contra-relógio à baía [a minha baía] por especial favor do amigo reencontrado. Respirar fundo antes de virar a esquina cá de cima, encarar a paisagem colossal que parece uma aguarela. Alguma decepção devido a algumas mudanças, mas todos os locais essenciais estão lá, praticamente intactos. Não pensar em nada, sair do carro, disparar fotografias por todo o lado para absorver a paisagem de todas as formas possíveis porque os sentidos não chegam: retina, cheiro, tacto, fotografias. O cheiro que não consigo decifrar está lá. Está em muitos sitios, mas principalmente lá. Não consigo desvendar, mas inalo-o conscientemente vezes seguidas. Ver o mar límpido, transparente, azul claro e escuro cá de cima. Descer as escadas da praia com o único objectivo de mergulhar naquela água. Ainda me lembro do sitio das rochas. Uma de cada lado, compridas, e a da direita tem uma argola na ponta. Só se pode tomar banho no meio. Sinto-me em casa, como se o mar me cumprimentasse e a areia quisesse penetrar-me na pele para sempre. Procuro no muro alto, feito de pedra sobre pedra, uma pedrinha solta para trazer no meu bolso. Encontro uma e tenho o desejo secreto de que ela lá esteja já há muitos anos e parece que sim, pelo tom.

Café depois de jantar com outro reencontrado. Pôr a conversa em dia. Porco-espinho na estrada. Pedir para parar o carro para eu poder sair e ir ver o animal de perto. Os meus olhos a brilhar porque nunca tinha visto um porco-espinho de perto. É igual aos desenhos das histórias infantis.




azores IV

Assistir a uma peça de teatro com o som e o azul do mar como fundo. Abraçar gente conhecida. Surpreender pessoas que não esperavam ver-me depois de quatro anos. Trocar contactos com pessoas que já não via há muito tempo. Passar horas dentro de água a apanhar ondas enormes e a meter-me debaixo delas. Ouvir pronúncia micaelense por todo o lado. Desejar que apanhem o barco de volta no dia seguinte para que a calma volte à ilha. Banho de mar às oito da noite. Vir para casa, arranjar-me e apanhar boleia dum amigo reencontrado, numa carrinha apinhada de gente. Terceirenses, micaelenses, marienses e eu única lisboeta. Rir com a pronúncia, rir com as piadas. Chegar, encarar caras conhecidas. Comprar bilhete para o festival. O carimbo fluorescente na mão esquerda (que já é habitual desde os meus nove anos) que permite entrar e sair do recinto. Dançar ritmos cubanos. Dançar reggae francês. Ponto de encontro com a companheira de cockpit. Companhia do amigo reencontrado durante toda a noite. Ansiar por favas nas barraquinhas e darem-me umas favas intragáveis. Música céltica junto ao mar. Palco no castelo apinhado. Sento-me no muro a descansar porque os pés já dão sinais de cansaço. Mais pessoas que me vêem, mais abraços, um “vê se apareces, gostei de te ver” que me surpreendeu. Ver pessoas que de uma forma ou outra já fizeram parte da minha vida na infância. O céu estrelado como nunca vi em mais lado nenhum. Identifico sem qualquer dificuldade a ursa maior, a menor e a cassiopeia.

azores III

Decepcionar-me. Respirar fundo. Pensar outra vez em mim. Reencontrar-me com a I. na ilha novamente, quatro anos depois. Rir. Experimentar roupas góticas. Admitir que até me ficam bem. Praia e mar. Nadar para longe, virar-me para trás e deslumbrar-me com a paisagem estonteante. Por mais que o faça, a reacção será sempre a mesma. Banhar-me no mar limpido, morno e azulão. Sair e ter a areia aveludada e escura agarrada aos pés. Fotografar.



quarta-feira, 27 de agosto de 2008

azores II

Percorrer as ruazinhas mais antigas da vila, feita turista, de máquina fotográfica na mão e mochila às costas.

azores I

“O comandante convidou-a para fazer a descolagem no cockpit” disse-me o hospedeiro. Eu e mais uma rapariga. Na verdade a descolagem passou a viagem inteira com direito a aterragem e tudo. Conversas, explicações, piadas e risos com o comandante. O tempo passou a voar (literalmente) e, duas horas depois, lá ao fundo, começou-se a ver terra. Contactos com a torre de controlo, a pista de frente cada vez mais perto e aterragem no meu palmo e meio de terra. Perfeita. Agradecimentos e a promessa de que nunca nos iríamos esquecer da oportunidade que nos deram. A porta abre-se, desço finalmente as escadas quase como a dona do mundo. Contente. O ar abafado na pele, sorriso estampado nos lábios e aposto que os meus olhos estavam a brilhar. Troca de contactos com a companheira de cockpit com planos de nos encontrarmos mais tarde.
Telefonema do R. para ir até à praia ao fim da tarde. Aceito mesmo cansada, porque as saudades da areia e do mar são mais que muitas. Enterrei os pés na areia, experimentei a água e contemplei o pôr-do-sol. Soube a pouco.
no cockpit
A ilha vista do cockpit

ainda a açorear

quero que o tempo não passe e quero aproveitar cada bocadinho como se não houvesse o próximo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

azores


Amanhã de manhã!
Os bocadinhos de coragem e de racionalidade que fui acumulando nestes últimos dias desintegraram-se outra vez e foram parar a sítios onde não os encontro. Agora também não sei se vou continuar a precisar deles. Vou dormir e chamá-los de mansinho, pelo sim pelo não.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

what goes around comes around

não falha.

Fiz um porta-chaves para a chave da minha nova aquisição.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

No outro dia decifrei caras nas rochas extensas que estavam ao pé de mim. Apontei e expliquei os contornos que me levavam a afirmar que pareciam caras zangadas ou de boca aberta. Ninguém que estava comigo via o mesmo que eu e assustei-me. Para eles eram apenas isso: rochas extensas. Por escassos segundos fiquei estática a olhar para as minhas caras e apercebi-me que, agora, vai ser dificil ter outra pessoa ao meu lado que veja através dos meus olhos formas nas nuvens, nas raízes de árvore e nas rochas, tal como antes.

domingo, 17 de agosto de 2008

lembrança

Tenho de voltar a andar sempre com a máquina fotográfica na mala, tal como fazia há uns anos.
Agora dou por mim a trautear músicas que sempre pus de parte porque não eram o meu género, mas de tanto que os cd's rodaram naquele carro agora já quase as sei de cor. E fico nostálgica. E ponho-me à procura delas no youtube.
O mesmo bar em Cascais, com caras já conhecidas. Muita dança, muita tentativa de engate sem frutos. Fecho do bar e é hora de caminhar para a disco mais próxima para não perder o embalo da vontade. Abraço durante o caminho todo. Sorrio para dentro. Disco perfeita mas pessoal 8 ou 80. Dança e mais dança, os quatro. O mar ao fundo, mas bem perto, e viam-se as ligeiras ondulações. A lua enorme. Dança e mais dança com pausas no parapeito da janela para descansar as pernas e brincar um pouco. A meu pedido, descemos e vimos o mar nas rochas. Quase que me molhei com os respingos de uma onda que me resolveu cumprimentar. Mais dança, agora agarrada ao R. que me ensinava o um dois do kizomba. Arrepio de olhos fechados. 5h e tal, sair da disco e há muito frio. Arrastávamos os pés até chegar ao carro, de cansaço e sono. Silêncio de palavras a viagem toda. A perna do F. serviu-me de almofada metade do caminho até ao Seixal. Casa do R., cochilar no sofá enquanto se preparavam as malas. Quase não se fala, só se quer dormir. 7h55 quando cheguei à porta de casa. Último abraço de despedida. Saudades muitas.

sábado, 16 de agosto de 2008

Definitivamente há pormenores no corpo que me atraem e, se não estiverem no ponto, então não vale a pena.